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Egito: oposição sai às ruas, mas governo proíbe manifestações

Agência France-Presse
postado em 26/01/2011 12:18
CAIRO - Os organizadores das manifestações contra o regime no Egito, as maiores em 30 anos de poder do presidente Hosni Mubarak, convocaram novos protestos nesta quarta-feira, apesar da proibição do governo.

Mais um manifestante morreu nesta quarta em consequência dos ferimentos sofridos na véspera em Suez, a leste do Cairo, elevando a quatro o número de mortos nos enfrentamentos, sendo três manifestantes e um policial.

O "Movimento 6 de Abril", grupo de militantes pró-democracia, anunciou a convocação de novos protestos no centro do Cairo "para pedir o direito a viver, à liberdade e à dignidade".

Paralelamente, o ministério do Interior anunciou que "não será permitido nenhum ato de provocação, reunião de protesto ou passeata".

Alguns participantes, muito ativos nas redes sociais da internet, indicaram à AFP que não pretendem acatar esta advertência, e que as manifestações podem ocorrer também nas províncias.

Os protestos da terça-feira, que mobilizaram milhares de pessoas em todo o país, são as mais importantes em três décadas de governo Mubarak.

Nas passeatas, inspiradas pela rebelião tunesiana que provocou a queda do presidente Zine El Abidine Ben Ali, há 23 anos no poder, os manifestantes entoavam slogans que pediam a saída de Mubarak, de 82 anos, à frente do governo desde 1981.

Pelo menos 200 pessoas foram detidas na terça-feira, segundo os serviços de segurança.

A bolsa do Cairo abriu nesta quarta-feira em forte baixa, e seu principal índice perdia 5% nas primeiras horas do pregão.

A imprensa independente egípcia destacou nesta quarta-feira a magnitude dos protestos.

"Milhares de pessoas se manifiestam contra o poder, o desemprego, a inflação e a corrupção, e pedem a saída do governo", era a manchete do jornal Al Masri al Yom.

Outro diário, o Al Shoruq, afirmou em sua capa: "Egito em cólera toma as ruas".

"Um vulcão de ira entrou em erupção nas ruas do Cairo", escreveu.

A imprensa oficial, por outro lado, minimizou o impacto dos protestos.

"Houve manifestações em alguns luagres, mas a maioria das cidades permaneceram tranquilas", indicou o Al Ajbar.

No exterior, multiplicam-se os apelos por reformas no Egito, destacando-se o papel moderador do país no conflito árabe-israelense.

Para Catherine Ashton, chefe da diplomacia da União Europeia, as manifestações de terça-feira são um "sinal" do anseio de milhares de egípcios por uma "mudança política" no país.

"Milhares de egípcios se concentraram nas ruas do Cairo para expressar seu desejo de uma mudança política. A UE acompanha de perto estas passeatas (...), que são um sinal dos anseios de muitos egípcios, após os acontecimentos na Tunísia", declarou Ashton nesta quarta-feira.

Além disso, destacou que as autoridades egípcias deveriam "escutar" os manifestantes, "respeitando e protegendo o direito" do povo de "manifestar suas aspirações políticas através de passeatas pacíficas".

A Casa Branca disse na terça-feira que o governo egípcio deve ser "sensível" às aspirações da população, e afirmou que o presidente deve "levar a cabo reformas políticas econômicas e sociais".

A França, por sua vez, lamentou as mortes ocorridas durante as manifestações, enquanto Israel disse esperar que a rebelião egípcia não influencie negativamente as relações entre os dois países.

O Egito foi o primeiro país árabe a assinar um acordo de paz com Israel, em 1979.

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