postado em 27/01/2011 08:56
O que começou como um ato político convocado por meio do microblog Twitter e do site de relacionamentos sociais Facebook se transformou em um protesto gigantesco, reprimido sem piedade pelas forças de segurança do Egito. Pelo menos 860 pessoas foram detidas em todo o país, 560 apenas ontem, incluindo 90 manifestantes na Praça Tahrir ; no centro do Cairo ; e 121 integrantes da organização islamita Irmandade Muçulmana, em Aisut (sul). O estudante Peter Nagy, de 23 anos, preferiu não participar dos protestos. ;A polícia age brutalmente e prende qualquer um que esteja andando pela região central. Isso aconteceu com um amigo;, contou ao Correio, pela internet. ;Nós estamos vivendo sob essa ditadura há anos, é hora de mudança;, acrescentou Nagy, referindo-se ao presidente Hosni Mubarak, no poder desde 1981.Inspirado na Revolução dos Jasmins, na Tunísia, o levante no Egito ganha contornos preocupantes. ;Os manifestantes desejam que Mubarak renuncie e querem derrubar todo o governo. A polícia está respondendo com o uso da força, de gás lacrimogêneo e de balas de borracha;, denunciou Nagy. Na terça-feira, quatro pessoas haviam sido mortas durante os protestos. Mais duas vítimas foram confirmadas ontem: um manifestante e um policial, no Cairo.
A também estudante Mina Nader Naguib, de 21 anos, classificou a situação no país de ;cada vez mais violenta; e citou o toque de recolher imposto em Suez, 125km a sudeste do Cairo. ;Ouvi relatos de que mais de mil pessoas foram presas e que um idoso de 80 anos morreu com 80 tiros;, relatou Naguib, que mora na capital. Pelo menos 2 mil pessoas saíram às ruas da cidade portuária, pelo segundo dia consecutivo. Até o fechamento dessa edição, as informações não haviam sido confirmadas. De acordo com a agência de notícias France-Presse, os manifestantes lançaram coquetéis Molotov contra um prédio do governo, também em Suez, provocando um incêndio.
O Ministério do Interior emitiu um comunicado advertindo sobre a possibilidade de radicalização das forças de segurança. ;Nenhum ato de provocação, reunião de protesto, passeata ou manifestação será permitido;, afirma a nota. Mina aposta que o aviso será ignorado. ;Os civis não vão parar de protestar por seus direitos e, se as autoridades usarem a violência, as manifestações crescerão;, alertou.
A instabilidade no Egito é acompanhada com atenção pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE). Em um raro desdobramento, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, exortou Mubarak a permitir a liberdade de expressão e a proceder com reformas. ;Nós acreditamos fortemente que o governo egípcio tem uma oportunidade importante para implementar reformas políticas, econômicas e sociais;, afirmou Hillary, durante uma coletiva de imprensa com o chanceler jordaniano, Nasser Judeh, em Washington. ;Chamamos todas as partes à contenção e ao fim da violência. Pedimos às autoridades que não impeçam protestos pacíficos nem bloqueiem as comunicações, incluindo os sites de relacionamento social;, acrescentou.
Apelo
Catherine Ashton, porta-voz da diplomacia do bloco, aconselhou o governo Mubarak a escutar os anseios da população. ;Milhares de egípcios se concentraram nas ruas do Cairo para expressar seu desejo de mudança política. Pedimos ao governo que respeito e proteja o direito da população de manifestar suas aspirações políticas, por meio de marchas pacíficas;, declarou. O Movimento Juvenil 6 de Abril utilizou o site Facebook para convocar os protestos e informar sobre violações dos direitos humanos. No início da noite de ontem, a página da organização acumulava 23.147 admiradores. ;Estamos usando o Twitter com a ajuda de redes privadas virtuais (VPN), ligadas a servidores proxy. O governo cortou o acesso e o reativou uma hora atrás. Desde então, a conexão tem sido instável;, confirmou Mina à reportagem.
O blogueiro, jornalista e ativista dos direitos humanos Wael Abbas também conseguiu ontem acessar o Twitter. ;A situação está muito tensa, especialmente no centro, e vários manifestantes estão entrando em confronto com as forças de segurança;, afirmou ao Correio.
CONVOCAÇÃO NA JORDÂNIA
A Irmandade Muçulmana e seu braço político, a Frente de Ação Islâmica (FAI), convocaram uma manifestação para amanhã na Jordânia, contra a carestia e a favor de reformas políticas. ;Nós continuaremos com nosso movimento até a obtenção de reformas políticas e melhoria de vida dos jordanianos;, afirmou Jamil Abu Bakr, porta-voz da organização. Desde a queda do presidente tunisiano, Zine El Abidine Ben Ali, foram realizados três protestos contra a carestia e para pedir a renúncia do governo.