Agência France-Presse
postado em 27/01/2011 12:30
WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, confirmou o Brasil como principal interlocutor na América Latina ao anunciar sua primeira viagem à região, após dois anos no poder, apesar de sua escolha também ter sido motivada pelo complexo cenário na região, segundo analistas.Obama anunciou solenemente na terça-feira no Congresso, durante o discurso do Estado da União, que viajará a Brasil, Chile e El Salvador no fim de março.
"O governo de Lula fez durante dois anos com que para Estados Unidos fosse realmente difícil abrir um debate com Brasil", explica à AFP Riordan Roett, diretor do Programa América Latina da Universidade Johns Hopkins, em referência ao antecessor da presidente Dilma Rousseff.
A Casa Branca, que ainda tem uma divergência clara com a diplomacia brasileira sobre como tratar o Irã, aposta em virar a página e tentar uma aproximação direta com Dilma Rousseff, considerada mais pragmática que Lula.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, fez uma visita relâmpago à Brasília para assistir a posse da primeira presidente na história do Brasil.
Mas a aproximação não será fácil, adverte Roett, já que o Brasil continua ganhando peso econômico no cenário mundial, tem a própria agenda diplomática e comercial e pretende assumir o papel de porta-voz do G20 (o grupo de países emergentes).
"Os contornos de nossa política estrangeira não vão mudar radicalmente", explicou em Bruxelas o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
No entanto, existem temas que ligam irremediavelmente Washington e Brasília, como o interesse pelas energias renováveis.
Roett não descarta ainda que Obama faça público seu interesse no petróleo brasileiro.
"Esta seria uma direção geopolítica muito importante para afastar-se da dependência do petróleo venezuelano", explica.
Mas Obama não deve temer as discussões com Rousseff, levando em consideração as alternativas da região, como o venezuelano Hugo Chávez e suas diatribes ou a Bolívia, onde nem sequer há um embaixador americano.
O Brasil por seu peso geoestratégico, Chile pelo êxito econômico e El Salvador pelos desafios que o crime organizado representa para a região são três maneiras de demonstrar os eixos da diplomacia americana na região, explica Michael Shifter, diretor do Centro Diálogo Interamericano.
Shifter lembra ainda que o governo dos Estados Unidos é o advogado de maior peso de Honduras para que um dia o país possa retornar com todos os direitos à Organização dos Estados Americanos (OEA), algo que o Brasil prefere ignorar.
Além disso, o nível de preocupação com a insegurança na América Central cresceu muito em Washington e, assim, uma visita de apoio a um governo (El Salvador) que está apresentando novas propostas é uma boa mensagem, explica Shifter.