Santiago - A justiça chilena investigará pela primeira vez as circunstâncias da morte do ex-presidente Salvador Allende, durante o golpe militar de Augusto Pinochet em 11 de setembro de 1973, como parte de ação requerida por uma promotora.
"Allende não tem uma causa dentro do poder judicial", explicou a promotora da Corte de Apelações, Beatriz Pedrals, que deu entrada na ação pela morte do presidente e de outras 725 pessoas, incluídas em casos de violações dos direitos humanos durante a ditadura (1973-1990), e nunca investigados.
As ações foram iniciadas depois da constatação, pelo magistrado encarregado de coordenar os casos de violações dos Direitos Humanos, Sergio Muñoz, de que existiam muitos casos de vítimas que não haviam apresentado nenhuma queixa.
Morte
O ex-presidente Salvador Allende morreu em 11 de setembro de 1973 no palácio de La Moneda - a sede presidencial - durante o golpe de Estado contra ele e que levou ao poder o ditador Augusto Pinochet.
Uma necropsia determinou que Allende se suicidou, apesar de os resultados continuarem sendo questionados por alguns setores políticos e de direitos humanos.
"O que não se investigou, a justiça investigará", assinalou Pedrals, expressando a vontade da justiça de "averiguar tudo o que aconteceu, com uniformidade de critério".
As novas ações referentes aos 726 casos sem investigação têm origem numa gestão realizada pelo poder público em 2010.
"No ano passado, foram revistas as listas de vítimas do Informe Rettig, e cruzamos esta informação com as ações abertas até o momento, verificando que existiam muitos casos sem representação", explicou uma fonte do poder judiciário.
O juiz Muñoz determinou que os processos deste tipo sobre vítimas devam ter um prazo final de investigação, pois, segundo ele, não é aceitável que se perpetuem no tempo e, por isso, a justiça se encarregará que sejam realizadas as diligências necessárias.
A notícia foi bem recebida pelo Grupo de Familiares de Presos Desaparecidos; sua presidente, Lorena Pizarro, classificou de "potente sinal por parte dos outros poderes do Estado".
"Nenhum crime pode ficar sem investigação. Estamos falando de mais de 700 casos que nunca foram investigados, e que incluem Allende, o que torna necessário uma resposta com uma força maior", declarou.
Segundo Pizarro, muitas famílias entraram com ações judiciais, mas a justiça não chegou a investigar todas.
Pedrals explicou que as ações compreendem casos de presos desaparecidos e falecidos "por quaisquer razões", como, por exemplo, pessoas que morreram vítimas de balas perdidas em manifestações.
Cerca de 3.000 pessoas morreram ou desapareceram nas mãos da ditadura de Augusto Pinochet. Até a presente, 560 militares são processados por esses crimes.