Madri - As vítimas de adoções irregulares aguardam a investigação, por parte da Justiça espanhola, do doloroso caso de milhares de crianças roubadas durante a ditadura franquista e nos anos posteriores, até a década de 1980. Uma denúncia foi apresentada formalmente nesta quinta-feira (27/1) sobre o destino de 261 bebês.
A Associação Nacional dos Afetados por Adoções Irregulares (Anadir), entrou nesta quinta-feira com demanda ante da procuradoria-geral do Estado pelo suposto roubo de 261 crianças, denunciando a existência de um verdadeiro tráfico de bebês durante o franquismo (1939-1975) e até o fim dos anos 1980.
Estas crianças eram roubadas ao nascer e a clínica dizia às mães que tinham morrido. Posteriormente, eram vendidas a famílias que não podiam ter filhos por montantes que variavam de 50.000 pesetas (300 euros) até 1 milhão de pesetas (6.000 euros).
Investigação
"Queremos que as procuradorias regionais abram investigações sobre todos os supostos casos de crianças roubadas, explicou à AFP o advogado das vítimas, Enrique Vila.
A demanda "segue a mesma linha de nossa luta", comemorou Emilio Silva, presidente da Associação para a Recuperação da Memória Histórica (ARMH), que pede que o Estado investigue o destino dos desaparecidos do franquismo.
A promotoria da Audiência Nacional, principal instância judicial espanhola, já pediu no início de dezembro ao Ministério da Justiça que ajudasse os "bebês roubados" no franquismo a recuperar sua identidade verdadeira, propondo abrir um escritório encarregado por essas investigações.
A promotoria lembrou que as investigações sobre os bebês roubados durante o franquismo não estão previstas na chamada Lei de Memória Histórica, aprovada em 2007 e que buscava reabilitar as vítimas da Guerra Civil (1936-1939) e da ditadura de Francisco Franco.
Durante o franquismo, os bebês eram roubados "principalmente por motivos políticos, de (mulheres) republicanas" e o objetivo "não era ganhar dinheiro", segundo Vila.
Um decreto de 1940 permitia ao regime franquista a guarda dos bebês caso sua "educação moral" estivesse em perigo.
Depois, a perversão do sistema mudou de direção. "Médicos ou clínicas privadas viram a possibilidade de fazer disso um negócio" e começaram a vender os bebês, completou Vila.
É "muito difícil" saber quantas famílias foram afetadas, já que "muitas crianças roubadas não sabem que foram e provavelmente morrerão sem saber", conclui Vila.