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Colômbia: drama mineiro mostra insegurança de um setor em plena expansão

Agência France-Presse
postado em 27/01/2011 18:09
Bogotá - A explosão em uma mina na Colômbia, que causou a morte de 21 trabalhadores, na quarta-feira, traz à tona os riscos enfrentados pelos mineiros em um país que vive um "boom" no setor, impulsionado pela demanda mundial de matérias-primas.

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, admitiu em Davos (Suíça), nesta quinta-feira, que após o drama em "La Preciosa", a mina do nordeste da Colômbia onde morreram 21 trabalhadores, seu governo reforçará as medidas de controle das empresas mineradoras.

"Esta tragédia não deveria acontecer. É preciso reforçar as medidas de controle dessas minas. Por isso, quando eu voltar, darei instruções para que revisem minuciosamente toda a regulação e o controle", disse Santos em Davos, acrescentando que antecipará seu regresso ao país para estar com as famílias das vítimas.

Em 2010, morreram na Colômbia 173 trabalhadores em acidentes em minas. O número está em aumento constante desde 2004, segundo dados do Instituto Naiconal de Geologia e Minas (Ingeominas).

O ministro de Minas, Carlos Rodado, declarou à rádio Caracol que são necessários mais recursos para exercer uma maior vigilância do setor após ordenar, na quarta-feira, o fechamento de "La Preciosa", onde em 2007 outro acidente deixou 32 mortos.

"Temos a necessidade de fortalecer com recursos humanos, técnicos e financeiros os trabalhos de fiscalização, (já que) contamos com apenas 16 pessoas para vigiar três mil minas em funcionamento e outras três mil em exploração", disse.

"Esta tragédia deve servir como ponto de reflexão sobre a necessidade e a obrigação do Estado de canalizar mais recursos para a fiscalização da mineração subterrânea", disse o ministro.

O geólogo Julio Fierro Morales, que recentemente denunciou a situação da mineração na Colômbia como "uma locomotiva sem controle", garantiu à AFP que em seu país o "Estado não soube proteger o setor das consequências negativas da mineração subterrânea, considerada uma das atividades mais perigosas do mundo".

Para Arturo Quirós, presidente da Asomineros, a associação de empresários que reúne as maiores empresas do setor, o alto índice de acidentes na mineração deve-se "ao aumento da atividade e também à confiança excessiva dos operadores".

Um outro motivo, segundo ele, é a "falta de cumprimento e seguimento das normas" por parte de algumas empresas.

O tema "causa em todos um sentimento muito triste. É certo que a segurança deve ser o ponto número um e comemoro que o governo esteja tão comprometido com o desenvolvimento de uma mineração responsável", declarou.

Os ambientalistas colombianos também expressam preocupação com o impacto negativo da indústria mineira nos páramos e outros ecossistemas, destinados pelo governo para a exploração de minerais.

Na Colômbia, o aumento da produção de carvão foi contínuo desde a década de 90. Entre 2003 e 2010 passou de menos de 60 milhões de toneladas ao ano, em média, a cerca de 75 milhões, de acordo com dados oficiais. Além disso, segundo Asomineros, esta produção pode duplicar na próxima década, dadas as importantes reservas do país.

Cerca de 298 mil pessoas estão empregadas na mineração colombiana, um setor dominado por grandes multinacionais estrangeiras, especialmente canadenses.

Em 2010, a Colômbia ocupou o quinto lugar em nível mundial quanto à exportação de carvão, atrás de Austrália, Indonésia, Rússia e África do Sul.

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