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Para analistas, crise no mundo árabe revela debilidade dos EUA na região

Agência France-Presse
postado em 29/01/2011 15:48

Washington - O atual turbilhão de acontecimentos políticos no Oriente Médio e no norte da África jogou luz sobre como a influência dos Estados Unidos na região tornou-se quase nula ao longo das últimas décadas, estimam analistas em Washington. A situação é contrária à dos anos 1990, quando os Estados Unidos conseguiram relançar um processo de paz entre Israel e os palestinos depois da primeira guerra do Golfo provocada pela invasão do Exército iraquiano no Kwait.

Uma sucessão de movimentos populares atingiu nas últimas semanas os regimes autocráticos na Tunísia, Egito, Iêmen e na Jordânia, todos aliados de Washington. Ao mesmo tempo, o Hezbollah, um grupo apoiado por Irã e Síria, provocou a queda do governo libanês pró-ocidental. Além disso, no processo de paz entre Israel e os palestinos, estes resolveram dirigir-se à ONU enquanto as negociações patrocinadas pelos Estados Unidos parecem não andar.

Países como Turquia, Qatar e Arábia Saudita estão preenchendo o vazio criado, fortalecendo seu papel na diplomacia regional, disse à AFP a analista Shibley Telhami, da Universidade de Maryland. "Não há dúvida de que a influência americana diminuiu drasticamente nas últimas duas décadas", completou Telhami, ao evocar a dominação de Washington na região depois de 1991.

No entanto, os ataques de 11 de setembro de 2001 mudaram profundamente a situação. As invasões no Afeganistão e Iraque por coalizões lideradas pelos Estados Unidos custaram milhares de vidas e bilhões de dólares, enquanto aumentou a influência iraniana na região. Agora é os Estados Unidos que acusam Teerã de ingerência nos assuntos de Afeganistão e Irã, e de armar e financiar o movimento xiita Hezbollah e Hamas, o grupo palestino que domina a Faixa de Gaza.

"A influência de Irã no Iraque é tão forte como a dos Estados Unidos", advertiu a especialista Marina Ottaway, da Fundação Carnegie. Segundo Ottaway, o ex-presidente George W. Bush também cometeu um erro ao tentar, sem êxito, eliminar a influência da Síria no Líbano. "Isso fez com que a situação ficasse mais instável ainda, porque os sírios lutam para recuperar sua influência", completou.

Aaron David Miller, ex-negociador de paz americano e pesquisador do Centro Woodrow Wilson, estimou que os recentes acontecimentos no mundo árabe "deixam ver a fragilidade americana". Este revés para os Estados Unidos ocorre há algum tempo, mas agora se torna mais espetacular devido às promessas do governo Barack Obama que anunciou uma mudança de época depois da administração Bush, disse Miller.

O atual presidente "criou espectativas, e a ideia, de uma certa forma, é que era mais fortes do que realmente são", completou. Mas depois de ter "tropeçado" no processo de paz entre palestinos e israelenses, "na Tunísia e Egito, é evidente que se está por definir qual é o papel mais eficaz possível para os Estados Unidos frente a essas mudanças", opinou.

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