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Mubarak nomeia vice-presidente e premiê, mas protestos continuam

Agência France-Presse
postado em 29/01/2011 18:47

Cairo - O presidente egípcio, Hosni Mubarak, designou neste sábado um vice-presidente, o chefe da inteligência Omar Suleiman, pela primeira vez em 30 anos, e um novo primeiro-ministro, ambos com cargo de general, para tentar sufocar uma rebelião que em cinco dias já deixou mais de 90 mortos.

Suleiman, de quase 77 anos, considerado um dos chefes da inteligência mais importantes do Oriente Médio por ter tratado de temas sensíveis como o conflito entre Israel e Palestina, tornou-se o número dois de Mubarak, alimentando conjecturas sobre a possibilidade de que seja o sucessor do presidente, de 82 anos, no poder desde 1981.

O chefe de Estado, que na véspera dissolveu seu governo e anunciou reformas, designou o ex-ministro da Aviação e o ex-chefe da Força Aérea Ahmed Shafiq para o cargo de primeiro-ministro. Com dezenas de milhares de pessoas nas ruas no Cairo e outras cidades do país para exigir sua renúncia, o presidente egípcio por fim tomou uma atitude, depois de vários dias de silêncio. Mas essas primeiras medidas não parecem convencer a oposição e os manifestantes de interromper os protestos.

O opositor e Prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, qualificou de "insuficientes" as mudanças e instou Mubarak a deixar o poder o quanto antes pelo bem do Egito, em uma declaração à emissora Al-Jazeera. Nas ruas, as nomeações tampouco surtiram efeito. "Não é uma boa decisão. (Suleiman) é um homem de Mubarak. Isso não é um sinal de mudança", disse Osama, um manifestante no centro do Cairo.

"Nem Mubarak, nem Suleiman: estamos fartos de americanos", gritavam grupos de manifestantes, em referência às boas relações do regime de Mubarak com Washington. As autoridades adiantaram neste sábado em duas horas, para as 16h00 locais (11h00 de Brasília) o início do toque de recolher, que se prolongará até as 08h00. Mas os manifestantes desconsideraram a medida e continuaram nas ruas durante a noite, assim como ocorreu no dia anterior.

Ao menos 102 pessoas morreram - 33 apenas no sábado - em cinco dias de rebelião anti-governo, informaram neste domingo (horário local) fontes médicas e de segurança. Mais dez mortes foram registradas nos arredores da cidade de Beni Sueif, a 140 km ao sul do Cairo, levando o total de mortes para 22 nesta cidade, depois que manifestantes tentaram queimar uma delegacia de polícia, segundo testemunhas.

Neste sábado, foram registrados 33 mortos - 22 em Beni Sueif, três no Cairo, três em Rafah e cinco em Ismailiya - durante confrontos entre polícia e manifestantes, segundo as mesmas fontes. Na sexta-feira, os choques deixaram 62 mortos, 35 deles no Cairo, segundo informações obtidas nos hospitais. Estes 95 mortos somam-se aos sete registrados nos três primeiros dias de protestos, levando o total de mortos a 102 desde 25 de janeiro.

Vários países expressaram sua preocupação com a situação no mais povoado dos países árabes (de 80 milhões de habitantes). O presidente americano, Barack Obama, instou Mubarak a "cumprir suas promessas" e a não usar a "violência contra manifestantes pacíficos". Apesar do anúncio da dissolução do governo e das promessas de reformas, a credibilidade de Mubarak continua em baixa.

O Exército, coluna vertebral do regime, foi mobilizado junto com a polícia para manter a ordem e aplicar o toque de recolher no Cairo, Alexandria e Suez. O Exército também chamou a população a se proteger dos saqueadores que atacaram dezenas de comércios em vários bairros da capital, onde a polícia não apareceu.

Dezenas de jovens formaram uma cadeia humana em torno do Museu do Cairo, onde estão tesouros da antiga civilização egípcia, e formaram comitês para proteger os arredores. Na tarde de sábado, o Cairo parecia um campo de batalha, com restos de carros queimados e escombros nas ruas e uma espessa fumaça negra que ainda saía da sede do partido do governo, localizado nas margens do Nilo e incendiado na noite anterior.

O xeique Yusef Al Qardaui, de muita influência no mundo árabe, afirmou que apenas a renúncia de Mubarak poderia resolver a crise, em declarações à Al-Jazeera. Um importante líder do partido governista, Ahmad Ezz, considerado um dos pilares do regime corrupto, renunciou de seu cargo neste sábado, segundo a emissora estatal. Vários países expressaram sua preocupação com a situação no Egito. O presidente americano, Barack Obama, instou Mubarak a "cumprir suas promessas" e a não "usar a violência contra manifestantes pacíficos".

Obama reuniu-se neste sábado com o conselho de segurança nacional para debater a crise no Egito, e reiterou seu chamado ao governo do Cairo a empreender reformas e mostrar cautela com os manifestantes. Na reunião, que durou uma hora, participaram o vice-presidente Joe Biden, o conselheiro de segurança nacional, Tom Donilon, e funcionários da política externa e de segurança, disse a Casa Branca em um comunicado.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, pediram a Mubarak "iniciar um processo de mudança" frente as "reivindicações legítimas" de seu povo, e a "evitar a qualquer custo o uso da violência contra civis", neste sábado, em declarações conjuntas.

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