postado em 30/01/2011 08:00
Nos próximos dois anos, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não terá menos desafios do que os que enfrentou na primeira metade de seu mandato. Ele precisará lidar com a guerra no Afeganistão e finalizar a retirada das tropas no Iraque, tentará fazer com que um Congresso mais republicano aprove o fechamento de Guantánamo e a reforma da imigração, além de atender às demandas internas relacionadas ao desemprego e ao deficit. Mesmo assim, a expectativa é que Obama consiga espaço na agenda para olhar em direção à vizinhança, praticamente esquecida no início de seu governo. Neste ano, o cenário já parece diferente. Na última terça-feira, durante seu mais importante discurso anual no Capitólio, ele anunciou que visitará, em março, Brasil, Chile e El Salvador ; o movimento foi visto com otimismo pela região.;Quando ele falou sobre a visita à América Latina, foi possível ver a importância representada pelo continente a partir de agora, principalmente para o Brasil, que vai ter um peso grande nesse processo. Resta saber se isso se confirma na prática;, observa Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Nos Estados Unidos, as expectativas também são de aprofundamento nas relações de Washington com a vizinhança. ;A América Latina e, particularmente, o Brasil, será importante na agenda nos próximos dois anos, já que os Estados Unidos trabalham para encontrar as áreas de acordo e cooperação e para diminuir os pontos de tensão entre os dois países;, afirma o norte-americano Shannon O;Neil, do Council on Foreign Relations.
A diplomacia brasileira recebeu com entusiasmo o anúncio da visita de Obama ao Brasil antes da viagem da presidente Dilma Rousseff a Washington. O gesto e a vinda da secretária de Estado, Hillary Clinton, para a cerimônia de posse de Dilma foram vistos como claras demonstrações da importância crescente do país para os EUA. Para o brasilianista Peter Hakim, do instituto Interamerican Dialogue, é evidente que o governo Obama percebeu o peso de uma boa relação com o país. ;O Brasil é importante por sua presença e influência internacional, mas também porque, sem o seu apoio, os EUA não podem efetivamente prosseguir com sua agenda na América do Sul;, explica.
Do lado brasileiro, Obama também deverá encontrar mais disposição para a aproximação. Enquanto o governo de Luiz Inácio Lula da Silva mantinha uma política que priorizava a relação com os vizinhos sul-americanos, muitas vezes em detrimento do diálogo com Washington, espera-se que Dilma Rousseff não descarte oportunidades com a potência. ;As relações entre os dois países se deterioraram nos últimos dois anos, e, agora, os EUA tentam aprimorá-las. A presidente Dilma está tentando fazer com que as relações sejam mais práticas. Lula era mais fechado com os americanos e teve dificuldade de negociar;, diz David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB). Segundo Fleischer, um exemplo claro dessa diferença será o tratamento dado pelo governo Dilma ao Irã ; a mandatária indicou que deve ter uma atitude mais forte em relação à violação de direitos humanos.
Ansiedade
Para Michael Shifter, especialista em América Latina da Universidade de Georgetown, o governo Obama já percebeu a ;abertura; representada pelo novo governo brasileiro. ;Obama está ansioso em tentar obter uma relação mais produtiva. O Brasil é, certamente, o país mais importante para os EUA no continente, depois do México. Mas a relação ainda tem muito espaço para se desenvolver;, afirma, destacando que é preciso haver um ajuste, com uma maior cooperação nas questões regionais e globais.
A expectativa é de que o encontro entre Obama e Dilma se centre especialmente no comércio bilateral, na questão energética ; incluindo pré-sal e biocombustíveis ; e na importância de fóruns multilaterais, como o G-20. ;Os dois países têm problemas de importação, então, um ponto importante seria a inclusão da participação brasileira no sistema geral de preferências para exportações, para que a abertura continue. Obama também deve aproveitar para conversar com Dilma sobre as compras dos caças;, indica Fleischer.
Na questão dos biocombustíveis, a ideia é não manter o foco sobre a questão das tarifas e dos subsídios que atrapalham a exportação brasileira aos Estados Unidos. Os governantes devem empreender uma esforço conjunto para transformar o biocombustível em uma commodity. ;O tema do combustível começou com Bush, quando ele esteve aqui em 2005. É bem provável que eles voltem a debater isso, porém dificilmente o assunto será transformado em uma questão pontual;, comenta Ayerbe. Para ele, o encontro entre Dilma e Obama tem um significado muito mais simbólico do que prático para os dois países. ;A visita é uma sinalização da importância do Brasil como interlocutor sul-americano e ajuda a obter um maior apoio no grupo G-20 e na Organização Mundial do Comércio (OMC).;
"A presidente Dilma está tentando fazer com que as relações sejam mais práticas. Lula era mais fechado com os americanos;
David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB)
"O Brasil é o país mais importante para os EUA no continente, depois do México. Mas a relação ainda tem muito espaço para se desenvolver;
Michael Shifter, especialista em América Latina pela Universidade de Georgetown