postado em 30/01/2011 08:00

Melhorar as relações com países latino-americanos foi uma das promessas de Obama durante a campanha presidencial. O continente perdeu importância na agenda dos EUA, depois de 11 de setembro de 2001. Os atentados terroristas fizeram com que a política externa do governo de George W. Bush se voltasse para o Oriente Médio. ;Nesse contexto, as relações internas na região foram reforçadas, e surgiram líderes como (o presidente venezuelano) Hugo Chávez . Então, existe uma tendência reconhecida pela maioria americana de que é preciso dar mais atenção a esse relacionamento;, afirma Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Apesar do consenso de que a América Latina nunca será prioridade do governo Obama, especialistas creem que a vizinhança receberá maior atenção do que nos dois primeiros anos de seu mandato. ;Existe um sentimento crescente de que os EUA não estão aproveitando as oportunidades presentes na região. O papel de outros atores no continente, em especial da China, mas também da Índia, do Irã e da Rússia, mostrou aos EUA que era preciso uma abordagem mais eficaz ;, afirma Michael Shifter, professor da Universidade de Georgetown.
A única aproximação real de Obama com a América Latina ocorreu em Trinidad e Tobago. Durante a Cúpula das Américas, ele apertou a mão de Chávez e do presidente boliviano, Evo Morales, e prometeu melhorar o diálogo com a região. ;Após esse evento, vieram a crise em Honduras, a polêmica da ampliação de bases americanas na Colômbia e a interferência do Brasil no Irã; então, as relações não se desenvolveram;, explica Ayerbe.
Contagem regressiva
A visita de Obama a El Salvador deverá delinear uma estratégia de combate ao crime organizado com os países vizinhos. ;Com certeza, será discutido um plano de cooperação contra as drogas que não seja a Iniciativa Mérida, feita apenas com o México. O narcotráfico é um perigo para a região, mas também serão debatidos problemas políticos, como o recente golpe de Estado em Honduras e o conflito diplomático entre Nicarágua e Costa Rica;, sugere Raul Benítez Manaut, professor da Universidade Nacional Autônoma do México.
A escolha do Chile se deve ao fato de o país ser considerado o mais estável da América Latina. Além disso, os dois governos mantêm acordo de livre-comércio desde 2003. ;O Chile é reconhecido como um modelo econômico e político bem-sucedido. Como o Brasil, tem um novo governo e enfrentou uma transição política suave de duas décadas de um governo de centro-esquerda a uma administração de centro-direita;, afirma Shifter.
Sem escala na Argentina
A Argentina não está no itinerário de Obama, ao contrário do que aconteceu nas últimas duas visitas de presidentes dos EUA à América Latina. Para Ayerbe, o país perdeu espaço estratégico nos últimos anos e não se projetou internacionalmente como o Brasil. ;Politicamente, a Argentina permanece estancada, não tem uma estratégia, e a polícia externa está à deriva. O casal Kirchner não deu muita importância para isso e, agora, o país oscila muito, não tem uma coerência ; ainda que a relação tenha melhorado com a condenação ao Irã (nas Nações Unidas);, explica o especialista da Unesp.
A Colômbia, o maior aliado americano na América do Sul, também não entrou na lista de Obama, o que despertou críticas. A explicação seria uma visita já marcada para o país em 2012, durante a Cúpula das Américas, em Cartagena. ;A decisão de não ir até Bogotá ainda é um mistério, porque os EUA investiram cerca de US$ 8 bilhões em ajuda em segurança no país nos últimos 12 anos, e eles têm um acordo de livre comércio pendente. Com o fracasso de Obama em apoiar a aprovação do TLC, a decisão de não viajar para a Colômbia será vista como uma afronta;, analisa Peter Hakim, presidente emérito do instituto Interamerican Dialogue. (TS e IF)