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Egípcios mantêm protestos; Mubarak é pressionado por aliados

Agência France-Presse
postado em 30/01/2011 17:48

Cairo - O Egito está no início de uma nova era, afirmou neste domingo Mohamed ElBaradei, designado pela oposição para negociar com o regime do presidente Hosni Mubarak, que enfrenta onda de protestos da população e uma crescente pressão de seus aliados ocidentais.

Milhares de pessoas voltaram às ruas do Cairo neste domingo, pelo sexto dia consecutivo, para exigir a renúncia de Mubarak, assim como do vice-presidente Omar Suleiman e do premiê Ahmed Shafiq, dois militares nomeados na véspera pelo presidente com a expectativa de conter a onda de descontentamento que já deixou ao menos 125 mortos.

Laicos e islamitas, jovens e velhos: a onda de protestos, que também ocorre em outras grandes cidades do Egito como Alexandria e Suez, é de longe a maior e mais importante desde 1981, quando Mubarak chegou ao poder. A união nas ruas traduziu-se no plano político, com a designação de ElBaradei como encarregado de negociar com o regime, em nome de uma Coalizão Nacional pela Mudança, que reúne várias formações opositoras, entre elas a Irmandade Muçulmana.

O ex-diretor geral da agência nuclear da ONU (AIEA) e Prêmio Nobel da Paz apresentou-se à noite na praça Tahrir, epicentro da rebelião, repleta de manifestantes, apesar do toque de recolher que a princípio era das 16h locais às 8h e que neste domingo foi ampliado para o período das 15h às 8h.

Foi recebido aos gritos de "o povo quer a queda do presidente" e "sacrificaremos nossa alma e nosso sangue pela pátria". ElBaradei tentou acalmar os manifestantes: "peço que tenham paciência, a mudança chegará", disse, apesar de assegurar que o "Egito está no início de uma nova era".

Os Estados Unidos, que consideram Mubarak como um de seus principais aliados na região, pediram para o presidente, de 82 anos, ir mais longe com as mudanças e começar a pensar na "transição", depois de três décadas no poder. "Desejamos ver uma transição ordenada. Demandamos insistentemente ao governo de Mubarak, que ainda está no poder (...), que faça o que for necessário para facilitar este tipo de transição ordenada", disse a secretária de Estado, Hillary Clinton.

A comunidade internacional acompanha com ansiedade os acontecimentos no Egito, o mais povoado dos países árabes (80 milhões de habitantes), que desempenha papel fundamental no diálogo entre israelenses e palestinos. O presidente do Parlamento, Fathi Sorur, prometeu que os resultados das legislativas do ano passado, denunciadas como fraudulentas pela oposição, serão "corrigidos" com decisões judiciais. Nesse pleito, o Partido Nacional Democrata de Mubarak obteve mais de 80% das cadeiras.

O país está paralisado, com os bancos e a bolsa fechados (o domingo é dia útil no Egito), grande quantidade de postos de gasolina com estoques esgotados e muitos caixas eletrônicos vazios. A situação interna é caótica nos últimos dias, com saques e fugas de milhares de presos durante a madrugada de domingo, muitos deles líderes islâmicos, de diversas prisões que ficaram sem guardas ou que foram tomadas por detentos amotinados.

Dezenas de corpos estavam na calçada perto de uma prisão a 100 km ao norte do Cairo, comprovou a AFP. O exército anunciou neste domingo que tinha capturado em torno de 3.000 fugitivos e saqueadores. Os moradores organizaram comitês de defesa que durante a noite patrulham com fuzis e barras de ferro a cidade de 20 milhões de habitantes, onde não parece restar nenhum policial, apesar de nas últimas horas haver uma presença maior de militares.

Várias agências de viagens suspenderam o envio de grupos de turistas. Muitos países - entre eles Arábia Saudita, Índia e Turquia - enviaram aviões para repatriar seus cidadãos. A embaixada dos Estados Unidos anunciou que iniciaria as repatriações na segunda-feira.

No aeroporto do Cairo, uma multidão de estrangeiros e egípcios aglomerava-se para tentar conseguir um voo para sair do país.

As autoridades egípcias proibiram neste domingo todas as atividades da emissora do Qatar Al-Jazeera, que estava cobrindo amplamente os protestos.

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