O Exército egípcio, pilar do regime, se encontra em uma posição difícil nesta terça-feira (1/2), entre a multidão contra a qual prometeu não abrir fogo e o presidente Hosni Mubarak, do qual se distanciou sem chegar a abandoná-lo totalmente.
Se abandonarem completamente o chefe de Estado, os militares podem colocar em perigo um sistema do qual são os fiadores e que proporciona vantagens políticas e econômicas às Forças Armadas.
Mas uma repressão violenta contra uma multidão que, até o momento, tem aplaudido os tanques e aclamado os soldados acabaria com a imagem positiva de uma instituição que goza do respeito da população, ao contrário da polícia. lém disso, na situação atual, a repressão talvez não consiga restabelecer a ordem.
Diante de uma situação instável, vários países pedem moderação. O governo dos Estados Unidos enviou um emissário ao Cairo, o ex-embaixador no Egito Frank Wisner, e a organização de defesa dos direito humanos Human Rights Watch (HRW) enviou uma carta ao ministro da Defesa, o marechal Mohamed Hussein Tantaui, para pedir cautela às Forças Armadas.
Para a HRW, trabalhar em uma transição pacífica para a democracia constitui uma "responsabilidade histórica" do Exército egípcio.
Segundo Tewfik Aclimandos, especialista em Egito no Coll;ge de France, na atual circunstância "tudo depende do Exército", que, apesar de apoiar Mubarak, "tampouco quer disparar contra a multidão".
O Exército ocupa um lugar de destaque no que está acontecendo desde que Mubarak, que é general da Força Aérea, pediu a intervenção dos militares para auxiliar a polícia, que não conseguia mais manter a ordem, e deu mais poderes aos militares, nomeando dois generais, Omar Suleiman e Ahmed Shafiq, como vice-presidente e primeiro-ministro respectivamente.
Na segunda-feira, o Exército se dirigiu ao "grande povo do Egito", considerou "legítimas" suas reivindicações e garantiu que "não recorrerá ao uso da força", tomando distância de Mubarak, mas sem esclarecer a quais reivindicações se referia.
Mas não tirou totalmente o apoio ao presidente, cuja renúncia é exigida cada vez mais pelos manifestantes.
Para superar os obstáculos, os militares podem apoiar uma espécie de transição organizada pelo regime, como deseja Washington, para conseguir conciliar a estabilidade do país com a abertura política, afirma Eliyah Zarwan, do International Crisis Group (ICG).
"Neste caso, parte do regime poderia perdurar e organizar a transição, se necessário sem Mubarak", completa.
Todos os presidentes egípcios foram militares desde 1952, quando os "oficiais livres" de Gamal Abdel Nasser derrubaram a monarquia.
Além disso, as Forças Armadas têm muitos soldados jovens cujo grau de lealdade ao regime é difícil de avaliar e aos quais seria difícil pedir que atirem contra os manifestantes.
"O Exército egípcio é respeitado. Reprimir movimentos populares não faz parte de sua tradição, em um país no qual a repressão sempre esteve a cargo das forças de segurança, em particular da polícia antidistúrbios", afirma Amr Al-Shobaki, do centro de estudos políticos Al Ahram do Cairo.
Na segunda-feira até a Irmandade Muçulmana destacou a "gloriosa posição do grande Exército egípcio, que está ao lado de seu povo".