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Líder supremo iraniano quer um regime islâmico no Egito

Agência France-Presse
postado em 04/02/2011 11:58
TEERÃ - O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, pediu nesta sexta-feira que os egípcios adotem um regime islâmico em seu país, afirmando que as recentes revoltas no mundo árabe são um "terremoto" provocado pela revolução iraniana de 1979.

Khamenei disse que as rebeliões nos países árabes, se forem bem sucedidas, farão as políticas americanas para a região falharem, e que as revoltas estão causando preocupações em Israel, que perderia a aliança com o Egito.

"Não desistam até a implementação de um regime popular baseado na religião", disse Khamenei em árabe, como parte de seu sermão de sexta-feira, direcionado aos egípcios.

"O clero deve ter um papel, por exemplo, quando as pessoas saem das mesquitas gritando slogans, eles devem apoiá-las. Inshallah (Deus queira) que parte do exército egípcio se una à população", completou, afirmando que "o principal inimigo do exército egípcio é o regime sionista e não a população."

Foi a primeira vez em sete meses que Khamenei faz o discurso da sexta-feira de orações, e ocorre no dia que os manifestantes no Egito chamaram de "dia da partida", para forçar a saída do presidente Hosni Mubarak.

Teerã, que cortou as relações com o Cairo em 1980, apoiou a revolta no Egito e alertou Washington contra "interferências" no que considera um movimento da população.

"Os eventos de hoje na África do Norte, Egito e Tunísia e outros países têm diferentes significados para nós", disse Khamenei em farsi na Universidade de Teerã, onde milhares de fiéis reuniram-se para ouvir o guia espiritual da nação.

"Isso é o que foi discutido durante a revolução iraniana, no nascimento da nossa grande nação e está se mostrando hoje", disse.

"Nossa revolução foi capaz de inspirar e ser um modelo, por conta da perseverança, estabilidade e insistência nos princípios", disse à multidão que gritava slogans como "Morte à América! Morte a Israel".

Khamenei afirmou ainda que a revolução iraniana mostrou o que é "independência política e (habilidade) para resistir aos inimigos".

"Hoje no Egito, as pessoas podem ouvir nossa voz ecoando por lá. O presidente americano que estava no poder durante a revolução (iraniana) disse em uma entrevista que o que está vendo no Egito lhe é familiar. O que ocorre no Cairo hoje foi visto em Teerã durante os dias em que ele estava no poder", disse Khamenei, referindo-se ao ex-presidente Jimmy Carter.

Ele disse que as revoltas no mundo árabe são "um terremoto real" que, caso tenham sucesso, levarão à falha das políticas americanas no Oriente Médio.

Khamenei atacou Mubarak, chamando o presidente de "servo" de Israel e dos Estados Unidos.

"Por 30 anos, este país (Egito) esteve nas mãos de alguém que não está buscando liberdade e é o inimigo daqueles que buscam", disse o líder islâmico.

"Não apenas ele não é anti-sionista, como é companheiro, colega, confidente e servo de sionistas. É fato que a servidão de Hosni Mubarak à América foi incapaz de colocar o Egito no caminho da prosperidade."

Khamenei também disse que Israel tem de ficar preocupado com a rebelião no mundo árabe.

"Israelenses e inimigos sionistas estão mais preocupados sobre esses eventos, porque sabem que se o Egito parar de ser um aliado importante, será uma grande mudança na região", completou.

O predecessor de Mubarak, Anwar Sadat, assinou um tratado de paz com Israel em 1979, quando o Egito obteve de volta todas as terras ocupadas por Israel em 1967 na guerra do Oriente Médio.

As relações entre Teerã e Cairo foram cortadas em 1980 depois da Revolução Islâmica no Irã e com o reconhecimento do Estado de Israel pelo Egito.

Khamenei disse que os cálculos do Ocidente para a região foram equivocados e citou a controvérsia nuclear com Teerã como um exemplo da "política do erro" feita pelas potências ocidentais.

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