Agência France-Presse
postado em 07/02/2011 08:35
CAIRO - O presidente egípcio, Hosni Mubarak, enfrenta nesta segunda-feira novas pressões para deixar o poder imediatamente, depois que a oposição considerou insuficientes as propostas de negociar uma saída que permita ao chefe de Estado permanecer no cargo até setembro.A praça Tahrir, no centro do Cairo, continua ocupada pelo 14; dia consecutivo pelos manifestantes, que exigem que as negociações entre o regime e a oposição inciadas no domingo não deixem de lado o objetivo de que Mubarak, no poder há 30 anos, deixe a presidência.
Os grupos de jovens que iniciaram a revolta contra Mubarak formaram uma coalizão e anunciaram que não pretendem desocupar a praça Tahrir até que o chefe de Estado renuncie ao poder.
Em um comunicado, a "Direção Unificada dos Jovens Revolucionários Revoltados" promete não abandonar a praça, ocupada por outros manifestantes desde 28 de janeiro, até que suas reivindicações sejam atendidas.
A primeira exigência é a "renúncia do presidente".
Homens armados não identificados lançaram quatro foguetes contra um quartel da polícia na cidade de Rafah na manhã desta segunda-feira, deixando um ferido.
Os autores do ataque ainda não foram identificados.
Vários ataques com foguetes contra prédios do governo foram registrados na região do Sinai, na fronteira com a Faixa de Gaza. No sábado, um gasoduto que liga o país à Jordânia foi atacado com explosivos.
O presidente americano, Barack Obama, destacou no domingo que o Egito passa por uma mudança política e defendeu a instauração de um "governo representativo" no país árabe, mas não pediu a saída imediata de Mubarak, um aliado de longa data de Washington.
"Só ele sabe o que vai fazer. Não vai tentar a reeleição. O mandato termina este ano", declarou Obama em entrevista ao canal Fox News.
Mubarak prometeu na semana passada que não concorreria a um novo mandato nas eleições de setembro, mas se negou a deixar o poder de maneira imediata, alegando que isto poderia afundar o país no "caos".
O vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, nomeado para o cargo nos primeiros dias da crise, recebeu no domingo representantes de diversos grupos opositores, incluindo o movimento Irmandade Muçulmana, mas os contatos não melhoraram a situação.
Depois do encontro, os participantes concordaram em efetuar uma "transição pacífica do poder baseada na Constituição", anunciou o porta-voz do governo, Magdi Radi.
Mas a Irmandade Muçulmana afirmou que as reformas propostas pelo regime eram insuficientes.
Uma pessoa presente ao encontro afirmou à AFP que todas as reivindicações da oposição foram rejeitadas, especialmente a que pedia que os responsáveis pela violência da semana passada fossem levados aos tribunais.
Quase 300 pessoas morreram desde o início da revolta popular, segundo a ONU.
De acordo com o porta-voz do governo, os participantes no diálogo chegaram a um consenso sobre a formação de um comitê, que incluirá o Poder Judiciário e personalidades políticas, para estudar e propor emendas constitucionais e legislativas.
O diálogo contou com a presença de integrantes da Irmandade Muçulmana, dos partidos Wafd (liberal) e Tagamu (esquerda), de membros de um comitê dos grupos pró-democracia que iniciaram o movimento que exige a queda de Mubarak, além de figuras políticas independentes e empresários.
Com a participação, a Irmandade Muçulmana se distancia do Irã, que defende a implantação de um regime islâmico no Egito.
O grande ausente do diálogo foi Mohamed ElBaradei, Prêmio Nobel da Paz e figura de destaque da oposição.
No domingo, os manifestantes celebraram na praça Tahrir uma cerimônia conjunta entre muçulmanos e cristãos.