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Instabilidade no país árabe faz cair a confiança nos países emergentes

Vera Batista
postado em 08/02/2011 09:26
Os bancos internacionais estão expostos ao Egito em pelo menos US$ 44 bilhões, segundo cálculos da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Tamanha possibilidade de prejuízo fez a crise que tem o país africano como epicentro propagar-se em níveis alarmantes para países emergentes, que estão pagando o preço. Com o risco Brasil em alta de 16% sobre o menor nível de 2011, captar recursos no exterior tornou-se missão hercúlea para empresas e instituições financeiras.

O grupo Braskem decidiu adiar o lançamento de eurobônus. A companhia, que está em forte processo de internacionalização, avaliou que o dinheiro em caixa era suficiente para sustentar as operações sem ter de ir ao mercado neste momento, quando é alto o risco de pagar muito caro por uma emissão. Enquanto isso, bancos brasileiros foram a mercado em meio à crise, mas reduziram o volume das captações. O BVA planejava lançar até US$ 150 milhões em títulos de vencimento em três anos, mas emitiu US$ 45 milhões. Na última semana, o Itaú Unibanco levantou US$ 250 milhões, menos do que pretendia. A redução da oferta foi a forma encontrada pelas instituições financeiras para não ter de pagar um preço muito alto pelas captações, já que o apetite dos investidores não está grande.

;A situação do Egito tem potencial de gerar um grande impacto. Isso cria estresse no mercado e pode encarecer as captações;, avalia o vice-presidente da Anbima, Alberto Kiraly. Para o gerente de Renda Variável da TIOV Corretora, as emissões de bônus no exterior tendem a voltar à normalidade até o fim do ano. ;É um mal-estar temporário e pontual. Algumas empresas se deram ao luxo de não aceitar os juros mais altos, porque no momento têm condições de fazer isso. Se estivessem com a corda no pescoço, pagariam qualquer preço e pronto;, destacou.

Capital estrangeiro

Preocupa os investidores o fato de o crescimento da economia egípcia ter sido ancorado em investimentos estrangeiros diretos. De 2006 a 2009, entraram US$ 45 bilhões. Agora, os investidores terão de repensar o destino desse investimento. Com a crise, decidiram abandonar o país multinacionais como Nissan Motor, General Motors, Heineken, Unilever e AkzoNobel. A brasileira Marcopolo, que atua em parceria com a egípcia GB Auto, teve de interromper as suas operações por falta de energia, mão de obra e peças. Mas a fabricante de ônibus diz que vai retomar as atividades assim que a situação política estiver controlada.

;É difícil que companhias que tinham planos ainda não concretizados de se instalar no Egito prossigam com seus projetos. Mas, para as empresas que já possuem plantas de produção no país, pode valer a pena continuar. E, depois da crise, é de se esperar que haja, por exemplo, uma forte retomada do turismo;, diz a coordenadora de Estudos de Relações Econômicas Internacionais, Luciana Acioly. Esta parece ser a aposta da Embraer, que no meio da turbulência anunciou o fortalecimento de sua parceria com a Egyptair.

Prejuízo para exportadores de carne

; Jorge Freitas

Os exportadores brasileiros de carne bovina e de frango reduziram a produção e estão redirecionando para outros mercados embarques de cargas que seriam despachadas para o Egito. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antonio Jorge Camardelli, disse que na última sexta-feira os frigoríficos e as indústrias ordenaram às empresas marítimas que programassem paradas técnicas dos navios que levavam carne bovina para o Egito. As cargas deverão ser desviadas para a Argélia e a Líbia.

;O Egito é terceiro maior comprador de carne bovina do Brasil, importa em média 3,5 mil toneladas ao mês. Mas a falta de garantias de pagamento levará os frigoríficos a redirecioná-las para países que também consomem carnes abatidas conforme o preceito religioso do sistema Halal;, afirmou. O presidente da associação dos produtores e exportadores de frango (Ubabef), Francisco Turra, alerta que, além de as empresas temerem não receber pela entrega, o custo da exportação aumentou com o encarecimento do seguro.

Diante da perdas no Egito, as ações das produtoras e exportadoras brasileiras de carnes vêm sofrendo forte desvalorização. As ON (Ordinárias Nominativas, com direito a voto) da JBS acumulam perdas de 15,20% no ano. Os papéis ON da Minerva já baixaram 6,88% em 2011. A Marfrig (ON) também amarga queda de 10,78% no período e a Minupar (ON) baixou mais de 3% no ano.

; Colaborou Vera Batista

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