postado em 10/02/2011 09:14
;Vergonhoso; e ;nojento; foram os adjetivos usados pelo primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, para se referir ao pedido de julgamento imediato feito pela Promotoria de Milão contra ele, por prostituição de menor e abuso da função no caso Rubygate. Para o premiê, as acusações são ;sem fundamento; e os promotores agiram unicamente com ;objetivo subversivo;. Cabe agora à magistrada Cristina Di Censo ; a quem a promotoria entregou os documentos recolhidos em 50 dias de investigação ; avaliar se há provas suficientes para julgar Berlusconi e se o tribunal de Milão tem competência para tanto. Se condenado, o ;Cavaliere; poderá pegar até 15 anos de prisão.;Sobre essa história de julgamento, posso dizer somente que é uma farsa, que se trata de acusações que não têm absolutamente nenhum fundamento. O único objetivo da investigação é a difamação midiática;, disse Berlusconi à imprensa, em Roma, pouco depois do anúncio. Ele ainda afirmou que os juízes de Milão não têm jurisdição para julgá-lo e que, como premiê, ele só pode ser levado a um tribunal especial para parlamentares.
Berlusconi é acusado de ter pago para manter relações sexuais com a dançarina marroquina Karima El Mahroug, conhecida por Ruby Rubbacuore, quando ela tinha 17 anos. Além disso, o chefe de governo teria usado sua influência, em maio de 2010, para libertar a garota, que estava presa por ter roubado 3 mil euros (cerca de R$ 6,8 mil). A investigação, liderada pelo procurador Edmondo Bruti Libertai, centrou-se em informações sobre as festas ;bunga bunga; realizadas por Berlusconi em sua mansão em Arcore, perto de Milão, na qual teriam participado mulheres ligadas a uma rede de prostituição, entre elas Ruby. A marroquina pivô do escândalo anunciou recentemente que se casará no fim do mês com Luca Rizzo, 41 anos, diretor de uma casa noturna.
A juíza tem cinco dias para decidir se Berlusconi será julgado. Se a opção for pelo processo imediato, o advogado do Cavalieri, Niccolo Ghedini, que também é deputado pelo partido do premiê, questionará a competência do tribunal de Milão em uma votação na Câmara dos Deputados, onde a coalizão governista tem maioria. Outra estratégia da defesa será continuar negando que os dois tenham mantido relações sexuais e afirmar que Ruby nasceu em 1991, e não em 1992 ; o que a tornaria maior de idade em 2010.
Para Barbara Faedda, diretora da Academia Italiana de Estudos Avançados da Universidade de Columbia, o Rubygate pode ser o grande desafio político de Berlusconi, que foi primeiro-ministro três vezes desde 1994. ;Seus aliados estão se tornando cada vez mais exigentes, e somente grandes compromissos podem mantê-los por perto. A questão é saber por quanto tempo a coligação vai apoiá-lo;, afirmou ao Correio. O líder da Liga Norte, Umberto Bossi, um dos principais aliados de Berlusconi, disse que o pedido da promotoria marca o início de uma ;guerra total; entre o Judiciário e o Legislativo.
Enquanto o processo não chega aos tribunais, italianas organizam uma manifestação para o próximo domingo. ;Não é uma mobilização política, é um movimento espontâneo que começou com mulheres de todas as idades e vai reunir artistas e pessoas comuns;, explica Elisa Davoglio, poetisa de 35 anos que está à frente do protesto. Um manifesto denunciando ;a representação indecente e repetida da mulher; foi assinado por mais de 50 mil mulheres em uma semana.
Ficha nada limpa
Silvio Berlusconi coleciona problemas com a Justiça desde 1993, quando entrou para a política:
1994
; Corrupção de funcionários da polícia financeira: acabou condenado em 1997 a 33 meses
de prisão, mas foi absolvido
em maio de 2000.
1995
; Falsificação de balanço: usou caixa dois na compra do jogador Gianluigi Lentini para seu clube, o Milan, mas foi beneficiado pela prescrição em 2002.
; Fraude fiscal na aquisição de uma mansão: beneficiado pela prescrição.
; Falsificação de balanço: no episódio, na compra de uma produtora de cinema, rendeu condenação a 16 meses de prisão, mas o premiê foi absolvido em 2000.
; Financiamento político ilegal: condenado a 28 meses de prisão, em 1998. No recurso, em 1999, beneficiou-se da prescrição.
1998
; Corrupção na compra da editora Mondadori: condenado em primeira instância, recorreu e beneficiou-se da prescrição.
; Corrupção de juízes: absolvido em definitivo em 2007.