Cairo - Os militares egípcios afirmaram nesta quinta-feira (10/2) que responderiam às demandas "legítimas" do povo, num momento em que o regime do presidente Hosni Mubarak cambaleia, em meio aos protestos em massa que exigem sua renúncia.
Não estava claro se o anúncio significava o fim do regime de 30 anos de Mubarak - a principal demanda de milhares de pessoas que foram às ruas das cidades do país em uma rebelião que já dura duas semanas.
A emissora estatal anunciou que o presidente fará um pronunciamento à nação nas próximas horas.
A TV egípcia interrompeu toda sua programação para apresentar imagens de uma reunião de militares de alto escalão, sendo que um deles leu um comunicado classificado como "número um" do Conselho Supremo das Forças Armadas.
"Em apoio às demandas legítimas da população", o exército "continuará se reunindo para examinar medidas a serem tomadas para proteger a nação e as ambições do maravilhoso povo egípcio", disse.
O primeiro-ministro Ahmed Shafiq insistiu, no entanto, que nenhuma decisão final foi tomada e que o conselho das Forças Armadas estava se reportando a Mubarak.
Uma onda de animação tomou conta da praça Tahrir, no centro do Cairo, epicentro dos protestos pró-democracia sem precedentes, enquanto rumores se espalhavam entre as centenas de milhares de pessoas reunidas no local.
Greve
Milhares de trabalhadores egípcios que fazem greve nacionalmente engrossaram suas fileiras, enquanto um protesto em massa está marcado para a sexta-feira, no que poderá ser a maior manifestação até agora.
Uma fonte da segurança confirmou informações divulgadas pelos sindicatos de que milhares de trabalhadores do setor público aderiram à greve na cidade de Alexandria, em Suez, e em todas as cidades da costa norte do país e no Mar Vermelho.
O líder sindical Kamal Abbas afirmou que desde que os protestos começaram, em 25 de janeiro, exigindo a queda de Mubarak, "começamos a ouvir rumores de que membros do governo tinham bilhões de dólares em suas contas pessoais".
"Muitos trabalhadores acreditam que é hora e levantar e exigir seus direitos."
Trabalhadores da maior fábrica do Egito - a indústria têxtil Misr Spinning and Weaving, que emprega 24.000 pessoas no Delta do Nilo - trancaram os prédios da companhia e se reuniram em massa em frente aos escritórios administrativos.
"Nós estamos em greve primeiramente para mostrar solidariedade aos manifestantes na praça Tahrir", disse um organizador, Faisal Naousha, à AFP. "Nós também queremos aumentos salariais".
No Cairo, em torno de 3.000 trabalhadores do setor de saúde protestaram para se unir às multidões anti-regime que bloquearam o Parlamento e ocuparam a praça Tahrir.
Em torno de 100 advogados vestidos de terno e gravata e jovens "revolucionários" marcharam com destino ao palácio presidencial de Abdeen, próximo à praça Tahrir, mas foram interrompidos pelo exército, quando eles se ajoelharam para realizar as orações da tarde.
"Esta é uma revolução legítima. É nosso direito derrubar este regime corrupto", disse Mohammed Mursi, um dos advogados.
A greve começou quando os dois lados do conflito no Egito endureceram sua retórica, com o vice-presidente Omar Suleimán e o chanceler Ahmed Abul Gheit ameaçando recorrer aos militares para recuperar o controle.
"Vida longa ao Egito! Abaixo Hosni Mubarak", gritavam os manifestantes nas ruas próximas ao Parlamento, cheias de abrigos temporários e cartazes anti-regime.
"Se não morrermos aqui, vamos morrer na prisão. Prefiro morrer aqui", disse Attiya Abuella, 24, desempregado.
Ele disse ter sido preso no ano passado por 60 dias, passado horas algemado à cela e completamente nu, por tirar fotografias durante as eleições legislativas vistas como fraudulentas.
Ocupação
Na Praça Tahrir, voluntários construíram banheiros portáteis em uma cidade cheia de tendas, repleta de vendedores de comida e bandeiras, além de estações de carregamento de telefones celulares.
Centenas de manifestantes de uma favela na cidade de Port Said colocaram fogo em delegacias e carros de polícia, segundo testemunhas.
Os Estados Unidos acompanham os eventos com preocupação, pedindo que o regime faça rápidas mudanças constitucionais na esperança de uma transição democrática sem violência e sem islâmicos.
Troca
O diretor da CIA Leon Panetta disse nesta quinta-feira que, caso Mubarak renuncie, ele poderá entregar o poder a Suleiman, que vem assumindo as conversas com grupos de oposições e líderes dos protestos.