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Mubarak delega alguns poderes ao vice, Suleimán

postado em 10/02/2011 20:44
Cairo - O presidente egípcio, Hosni Mubarak, delegou nesta quinta-feira (10/2) alguns poderes ao vice-presidente e propôs reformas constitucionais, mas não renunciou, enfurecendo os manifestantes que esperavam sua saída do poder. Seu discurso foi recebido com gritos furiosos de "Abaixo, abaixo Mubarak" entre mais de 200.000 pessoas que lotavam a praça Tahrir, no centro do Cairo, no 17º dia de protestos para exigir a renúncia do presidente. Muitos manifestantes pediram uma greve geral imediata e se dirigiram ao exército, que mobilizou um grande número de tropas e tanques em torno do protesto: "Exército egípcio, a escolha é agora, o regime ou o povo". A esperança era a de que Mubarak fosse renunciar imediatamente, depois que a cúpula militar anunciou horas mais cedo que iria garantir a segurança do país e defenderia as demandas "legítimas" da população. Mas, no final de seu discurso, Mubarak permaneceu como presidente do país. Ao delegar alguns de seus poderes ao vice-presidente e ex-chefe da inteligência Omar Suleiman, Mubarak afirmou que ele permaneceria o líder através de um processo de transição até setembro e, um dia, morreria no Egito. "Decidi delegar alguns poderes ao vice-presidente com base na Constituição", disse o aparentemente fragilizado Mubarak, com uma voz rouca. "Estou consciente dos perigos desta encruzilhada... e isso nos força a priorizar os altos interesses da nação." Ele continuou o discurso com um aparente ataque aos Estados Unidos e a outros países que o pressionaram para acelerar a transição para a democracia, afirmando: "eu nunca me curvei a ingerências externas". "Sempre preservei a paz e trabalhei pelo Egito e por sua estabilidade." O discurso não agradou aos manifestantes, que nas últimas duas semanas pediram o fim do regime Mubarak em grandes protestos que abalaram o país mais populoso entre os países árabes. Ao discursar pela televisão logo após Mubarak, o vice-presidente Omar Suleiman pediu aos manifestantes que fossem para casa ou voltassem para o trabalho. Mas, enquanto começavam a deixar pacificamente a praça Tahrir, os gritos de aumentavam. "Estamos indo para o palácioo, mártires aos milhões". Mais cedo, a praça foi inundada por uma atmosfera de carnaval, com centenas de milhares de egípcios reunidos para celebrar o que eles acreditavam ser o último discurso de um regime de três décadas de Mubarak. Quando eles perceberam que o presidente se recusava a renunciar, o humor mudou e a ira aflorou. A multidão gritava "Nem Mubarak, nem Suleiman", enquanto uma mulher idosa dizia: "O homem velho não vai deixar o poder". O funcionário de um supermercado Rahman Gamal, de 30 anos, disse: "Omar Suleiman e Mubarak são o mesmo. Eles são os dois lados da mesma moeda. Nossa primeira exigência é que ele deixe o poder. Se ele não sair, eu também não saio". "Ele ainda fala conosco como se fôssemos tolos", disse Ali Hassan, outro manifestante. "Ele é um general derrotado no campo de batalha que não vai recuar antes de causar o maior número de vítimas que puder". Centenas de manifestantes ocupam a praça desde o dia 28 de janeiro, pedindo uma reforma democrática e o fim do regime de Mubarak. Eles levantaram um enorme acampamento, cercado por um cordão de tropas e tanques. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que o mundo estava assistindo ao "desenrolar da História" e disse que a América fará tudo o que puder para garantir uma transição verdadeira para a democracia. Obama, discursando no estado de Michigan (norte), dirigiu-se diretamente aos jovens do Egito que integraram os protestos massivos no Cairo. "O que está absolutamente claro é que estamos testemunhando o desenrolar da história. Este é um momento em transformação que está ocorrendo porque as pessoas do Egito pedem mudanças", acrescentou. Mais cedo, milhares de trabalhadores egípcios que fazem greve nacionalmente se juntaram à manifestação, enquanto um protesto em massa está marcado para a sexta-feira, no que poderá ser o maior até agora. Uma fonte da segurança confirmou informações divulgadas pelos sindicatos de que milhares de trabalhadores do setor público aderiram à greve na cidade de Alexandria, em Suez, e em todas as cidades da costa norte do país e no Mar Vermelho. O líder sindical Kamal Abbas afirmou que desde que os protestos começaram, em 25 de janeiro, exigindo a queda de Mubarak, "começamos a ouvir rumores de que membros do governo tinham bilhões de dólares em suas contas pessoais". "Muitos trabalhadores acreditam que é hora e levantar e exigir seus direitos." Trabalhadores da maior fábrica do Egito - a indústria têxtil Misr Spinning and Weaving, que emprega 24.000 pessoas no Delta do Nilo - trancaram os prédios da companhia e se reuniram em massa em frente aos escritórios administrativos.

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