Cairo- O presidente egípcio, Hosni Mubarak, renunciou ao cargo nesta sexta-feira (11/2), após trinta anos de governo autocrático, e passou o poder a uma junta de altos comandantes militares, provocando uma explosão de alegria entre os milhares de manifestantes que levaram mais de duas semanas protestando nas ruas do Cairo.
Em toda a capital, ecoava o cântico: "nós, o povo, derrubamos o regime"
Com ar grave e sizudo, o vice-presidente Omar Suleiman anunciou a renúncia de Mubarak em declarações à televisão estatal, depois de uma extraordinária demonstração de revolta que levou mais de um milhão de furiosos manifestantes de volta às ruas do Cairo.
"O presidente Mohammed Hosni Mubarak decidiu deixar o cargo de presidente da república e encarregou o Conselho Supremo das Forças Armadas de cuidar das questões de Estado", disse Suleiman.
A declaração parecia encerrar o governo constitucional no Egito e investir poder a um grupo de generais representantes de um exército que há muito detém o poder de fato no país mais populoso do mundo árabe.
Mais cedo, o partido do presidente de 82 anos anunciou que Mubarak havia deixado o Cairo e viajado de avião para sua residência de férias no balneário de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho.
À medida que a notícia se espalhava, gritos de "Allahu Akbar" - Deus é o maior! - e vivas dominaram as ruas da capital egípcia. Sob o espocar de fogos de artifício, homens e mulheres cantavam e dançavam de alegria.
Praça símbolo
Na praça Tahrir, alguns manifestantes desmaiaram de emoção depois de duas semanas de intensos protestos. O local se tornou o ponto central da revolta desde que foi ocupada por manifestantes, no fim de janeiro, e desde cedo nesta sexta-feira era tomada por centenas de milhares de egípcios.
No entanto, a alegria pela saída de Mubarak não foi unânime. Muitos demonstravam preocupação de que o Egito ainda tenha um longo caminho a percorrer antes de sacudir a poeira de sessenta anos de repressão e autocracia.
Do lado de fora do fortificado complexo presidencial de Mubarak, Lubna Darwish chorava. "Estou chorando porque estou feliz", disse a jovem de 24 anos. "Estou feliz, mas temos tanto a fazer. As pessoas precisam controlar isto. Nós amamos o exército, mas o povo fez esta revolução e precisa controlá-la", declarou.
Mohammed Gouda, um estudante de 18 anos, reforçou a preocupação da jovem. "Não queremos outro 1952. Aquilo foi um golpe, não uma revolução. Mubarak renunciou ou o exército assumiu? A juventude precisa se manter em alerta", afirmou, em alusão ao último golpe militar registrado no país.
"Ele precisa deixar o país, nossas exigências são claras, queremos que todo o PND seja dissolvido e saia porque eles destruíram o país", disse, em alusão ao Partido Nacional Democrático, de Mubarak, Magdi Sabri, um homem de meia idade que protestava em frente ao prédio da TV estatal.
Antes do anúncio, em uma demonstração da solidariedade popular ao menos nos níveis mais baixos da hierarquia militar, pelo menos três oficiais egípcios baixaram as armas e se juntaram aos manifestantes.
Um pregador impassível dirigiu-se ao exército em seu sermão, instando as Forças Armadas a "agirem de uma forma que seja aceitável a Deus no dia do juízo final", pouco antes de desmaiar e ser socorrido no meio da multidão.
Agonia
Na noite de quinta-feira, centenas de milhares de pessoas lotaram a praça Tahrir para ouvir um discurso que esperavam que fosse o último de Mubarak como presidente.
Ao invés disso, ele delegou poderes a seu vice e ex-chefe da inteligência egípcia, Omar Suleiman, prometeu que permaneceria no cargo até as eleições presidenciais de setembro e disse que viveria e morreria no Egito, descartando um eventual exílio.