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Saída de Mubarak desencadeará novos conflitos políticos, diz professor

Embora seja um ;bonito marco; na história do Oriente Médio, a renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak, deve ser encarada como o início de um longo processo político que desencadeará novos conflitos sociais. A opinião é do especialista em História Contemporânea e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bernardo Kocher.

;Mubarak foi descartado, mas os militares e seus interesses econômicos permanecem apegados ao poder e vão querer repactuar o sistema político preservando-se;, afirmou Kocher à Agência Brasil, explicando que tanto Mubarak -, um ex-comandante da Força Aérea egípcia que lutou contra Israel na Guerra do Yom Kipur (1973) - quanto seus dois últimos antecessores governaram com o apoio do segmento militar.

Com a renúncia de Mubarak e do vice Omar Suleiman, o país será governado pelo Conselho Supremo das Forças Armadas até novembro deste ano. Só então tomará posse o candidato que vencer as eleições que já estavam programadas para acontecer em setembro. O processo de transição política será comandado pelo atual ministro da Defesa, marechal Mohamed Sayed Tantawi, de 79 anos.

Exército
;O papel dos militares na política e na economia egípcia é muito profundo e a população não vai poder descansar porque as forças que mantiveram Mubarak e seus antecessores no poder são as mesmas que agora vão controlar o país temporariamente. Não creio que os militares vão ceder tudo [o que a população reivindica], mas algo eles vão ter que ceder pois as manifestações dos últimos 18 dias são também um repúdio ao poder militar, ao monopólio do poder político pelos militares;, disse Kocher.

Para o professor, longe de pôr fim à revolta popular pautada pela necessidades que o sistema político egípcio não estava mais sendo capaz de suprir, a renúncia de Mubarak, após quase 30 anos no poder, permitirá que a sociedade egípcia passe a exigir, do futuro governo, respostas para demandas sociais até então sufocadas por uma ditadura sustentada pelo poderio militar do Estado. E, com certeza, mudará a maneira ;equivocada e estereotipada; com que o Ocidente enxerga as sociedades islâmicas.

;Creio que, nos próximos anos, o processo político egípcio será marcado por conflitos. As demandas sociais que estavam represadas agora virão todas à tona;, disse Kocher, que considera cedo prever o que irá acontecer no Egito a partir de hoje. ;Vai depender da correlação de forças que vão ser montadas. O que é certo é que haverá conflitos, pois o grupo dominante que estava junto com o ex-presidente ainda não desistiu do poder.