postado em 12/02/2011 08:17
Líderes de todo o mundo ; inclusive dos países e grupos aliados ao governo do ex-ditador ; parabenizaram o povo egípcio pela ;grande conquista; representada pela saída de Hosni Mubarak e disseram torcer por uma transição democrática. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que o Egito ;não será mais o mesmo; após a queda de Mubarak, mas previu ;dias difíceis; neste momento, que, segundo ele, é ;apenas o começo; do processo de mudança. Em Brasília, o assessor de assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse que o governo brasileiro vê com ;muita simpatia; o fortalecimento do movimento democrático no Egito e considera uma ;vitória importante; da população a queda de Mubarak. O mercado internacional também reagiu bem à queda do presidente, com altas nas principais bolsas de valores.Da Casa Branca, Obama disse que o colega egípcio respondeu à ;fome de mudanças; da população. ;O povo se manifestou, sua voz foi ouvida e o Egito nunca mais será o mesmo;, afirmou, destacando que a população só permitirá que ascenda no país uma ;democracia genuína;. Ele afirmou, contudo, que o caminho não será fácil. ;Muitas questões permanecem sem resposta. Mas estou confiante de que o povo do Egito pode encontrar as respostas, e fazê-lo de forma pacífica;, disse. Aos militares, Obama pediu a garantia de uma transição de poder que ;tenha credibilidade aos olhos do povo egípcio;.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, felicitou os egípcios pelo modo ;pacífico, corajoso e ordeiro; como exerceram seus direitos. ;A voz do povo, sobretudo da juventude, foi ouvida, e são eles que vão determinar o futuro do país;, afirmou. Coragem foi a palavra usada pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, mas para definir a ação de Mubarak. ;A França presta tributo a essa decisão corajosa e necessária (de deixar o poder);, declarou. Para a União Europeia, a queda de Mubarak abre caminho para ;reformas mais rápidas e profundas; no país árabe.
No Brasil, o Itamaraty lançou um comunicado que não menciona diretamente a saída de Mubarak, mas manifesta a expectativa de que a transição política transcorra ;dentro do respeito às liberdades políticas e civis e aos direitos humanos da população;. O assessor da Presidência foi mais enfático: ;Evidentemente, não é um episódio encerrado, mas hoje houve uma vitória importante das reivindicações populares, com a saída do presidente Mubarak;.
Os grupos radicais islâmicos Hamas e Hezbollah também comemoraram a queda do presidente egípcio, que pode abrir caminho para um regime muçulmano. Na Faixa de Gaza, onde a queda do mandatário foi comemorada em todo o território, o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, saudou ;o começo da vitória da revolução egípcia;. Nas ruas de Beirute também houve buzinaços e até fogos de artifício após o anúncio no Cairo. ;O Hezbollah parabeniza o grande povo do Egito por esta histórica e honrosa vitória, que é o resultado de sua revolução pioneira;, disse um comunicado.
O governo israelense, que agora vê mais motivos para se sentir ameaçado, limitou-se a dizer que espera não haver mudanças na relação pacífica que mantém com o Egito. ;É muito cedo para prever como isso vai afetar as coisas. Esperamos que a mudança para a democracia ocorra sem violência, e que o acordo de paz (de 1979) continue em vigor;, disse um alto oficial israelense.
A balança do poder
Quem são os personagens centrais da transição política no Egito:
Mohammed Hussein Tantawi
O atual ministro da Defesa chefia o Conselho Supremo das Forças Armadas, que assumiu de imediato o papel central no comando da transição. Marechal e dono de longa carreira militar, como os quatro presidentes do Egito moderno, já era cotado para disputar a sucessão de Mubarak em setembro. Opositores se referiam a Tantawi como o ;cachorrinho; do agora ex-presidente.
Mohammed ElBaradei
Diplomata de longa carreira internacional, ganhou fama mundial após ter sido laureado com o Prêmio Nobel da Paz de 2005, como diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Retornou ao país no início da onda de protestos e apresentou-se como candidato a liderar a oposição ao regime.
Amr Mussa
Também diplomata, ex-chanceler no próprio governo de Mubarak, o atual secretário-geral da Liga Árabe é visto em círculos do Oriente Médio como o nome mais adequado a governar o Egito, pelas sólidas conexões externas que colecionou. Desde o ano passado, diante das indicações de que o presidente não tentaria nova reeleição, seu nome era cogitado para a sucessão.
Irmandade Muçulmana
A tradicional organização fundamentalista tem presença de décadas na vida político-social do Egito, embora seja formalmente banida. Na eleição parlamentar de 2005, apresentou candidatos na condição de independentes e elegeu 88 deputados, cerca de 20% do Parlamento. Até aqui, sinalizou que não se lançaria a disputar o poder, mas já participou de conversações sobre a transição e tende a jogar um papel crescente no desenrolar do processo político.
Regime do Irã festeja em dobro
A data para a renúncia de Hosni Mubarak não poderia ter sido mais simbólica para o Irã, um dos países mais interessados na queda do regime egípcio. O anúncio veio no dia em que Teerã comemorava os 32 anos da vitória da revolução liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini sobre o xá Mohammad Reza Pahlavi. Para as autoridades iranianas, essa é a evidência mais concreta de que a Revolução Islâmica de 1979 influenciou o recente levante nos países árabes, em especial no Egito. Antes mesmo do comunicado oficial, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, afirmou, diante da multidão que celebrava na Praça Azadi (Liberdade), em Teerã, que ;um novo Oriente Médio; está surgindo.
;Em breve, veremos um novo Oriente Médio se materializando, sem os Estados Unidos e o regime sionista, e nele não haverá espaço para a arrogância mundial;, afirmou Ahmadinejad, usando a expressão habitual para referir-se às grandes potências. ;Digo aos povos e aos jovens dos países islâmicos e árabes, em particular aos egípcios: permaneçam alertas. Vocês têm direito à liberdade, a escolher seu governo e seus dirigentes;, completou.
O presidente deixou explícita a certeza sobre a influência do exemplo iraniano na ebulição política que levou à queda do ditador egípcio. ;A mensagem da Revolução Islâmica foi transmitida durante os últimos 32 anos ao mundo, e os espíritos e corações despertaram agora;, afirmou.
;Vitória do povo;
Teerã considerou a saída de Mubarak uma ;grande vitória do povo; egípcio, e disse esperar que todas as demandas da população sejam atendidas. Em um comunicado, o chanceler Ali Akbar Salehi afirmou que os militares egípcios precisam se unir à população em seu movimento por democracia e independência. ;O Exército deverá desempenhar o seu papel histórico neste momento crítico, considerando sua brilhante tradição de luta contra a opressão e as violações do regime sionista, e satisfazer as exigências de sua grande nação.;
Em Teerã, a celebração tradicional do aniversário da Revolução Islâmica foi utilizada também como manifestação de apoio à rebelião egípcia. Entre as dezenas de milhares de pessoas que saíram às ruas durante todo o dia, muitas exibiam bandeiras iranianas e retratos do imã Khomeini e do aiatolá Ali Khamenei, atual guia supremo. Algumas gritavam ;morte a Mubarak; e ;morte à América;. ;A população iraniana claramente apoia a população do Egito, e esta passeata, que é de toda a população iraniana, de todos os partidos, é uma demonstração disso;, disse ao Correio o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh. O governo iraniano, no entanto, não permitiu que a oposição reformista autorizasse a realização de marchas paralelas em apoio ao Egito. (IF)