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Depois da festa, manifestantes egípcios se preparam para novas lutas

Agência France-Presse
postado em 12/02/2011 16:16
Cairo - Legítimos promotores da revolução, os jovens egípcios passaram a noite toda celebrando euforicamente a queda do presidente Hosni Mubarak, mas parecem determinados a continuar lutando até que o ex-chefe de Estado seja julgado e a sociedade democrática que anseiam se torne uma realidade. "A luta não acabou porque temos ainda muitas reivindicações", declarou Manal Ghannamy, 40 anos, professora de francês e membro do movimento "Todos somos Jalel Said", nome dado em homenagem a um jovem que morreu nas mãos da polícia em junho. "Mudamos o regime, agora devemos tomar o caminho da democracia. Queremos solucionar nossos problemas internos: saúde, educação moradia, agricultura, emprego. Queremos um país aberto a todo o mundo. Queremos viver em paz com todos os países, inclusive com Israel", acrescentou. Heba Hafez, de 30 anos, professora da American International School do Cairo, consiera que "Mubarak tem que ser julgado porque cometeu muitos crimes, é responsável pela corrupção e pelas mortes". "Os militares deveriam deixar que Mubarak seja julgado, mas não estamos seguros de que isso vai acontecer", afirma, por sua vez, Mohamed Ghanem, de 26 anos, formado em Turismo e empregado de uma companhia de telefonia móvel. Os três acham, no entanto, que esta luta deve ser travada em outros cenários e que chegou o momento de desalojar a Praça Tahrir, onde acamparam junto a milhares de pessoas. Muitos se preparam para levantar acampamento, mas, primeiro, armados e vassouras e baldes, limpam o lugar que os acolheu por 18 dias. Mas muitos também estão determinados a ficar. "Não nos moveremos daqui até que consigamos o caminho que queremos", afirma Islam Hassan, de 16 anos, que tem a bandeira nacional pintada no rosto. "Todas as famílias cujos filhos e filhas morreram aqui querem ficar porque se sentem feridos", acrescenta. Mohamed Rida, uma ativista de 26 anos, é enfática: "Não queremos ser governados pelo exército". "Mas daremos ao exército o tempo necessário para fazer as reformas", ressalva. "O exército nos tratou com tanto respeito que agora temos que confiar em suas promessas", explica ainda. Ilustrando sua confiança na atitude de apoio dos militares, muitas pessoas passaram a fotografar seus filhos sobre os tanques postados na praça, ante o olhar impassível dos soldados. Se não desconfiam das Forças Armadas, os jovens egípcios se mostram, por outro lado, com um pé atrás em relação à Irmandade Muçulmana, a principal força de oposição apesar de ilegalizada durante a era Mubarak. "Não permitiremos que a Irmandade Muçulmana assuma o poder. Somos todos muçulmanos, mas não somos extremistas", afirma Ghanem. "Esta não será uma república islâmica, aqui não há extremistas e nunca haverá", enfatiza.

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