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Exército egípcio promete transição democrática na era pós-Mubarak

Agência France-Presse
postado em 12/02/2011 17:16
Cairo - As poderosas Forças Armadas do Egito prometeram neste sábado uma transição pacífica para um governo civil eleito e o respeito de todos os tratados internacionais, um dia depois de Hosni Mubarak ter renunciado à presidência e deixado o poder aos militares. Ao mesmo tempo, nas ruas do Cairo milhares de pessoas davam prosseguimento às celebrações com a esperança de um futuro melhor após a queda do regime de Mubarak, de 82 anos, que renunciou na véspera após três décadas no poder. [SAIBAMAIS]Em um comunicado lido na televisão estatal, o Conselho Supremo das Forças Armadas afirma o compromisso com uma "transição pacífica do poder", que "prepare o caminho para que uma autoridade civil eleita construa um Estado democrático". O governo egípcio permanecerá no poder provisoriamente para administrar os assuntos correntes, segundo os militares, que assumiram o controle do país depois da queda do regime de Mubarak. "O governo atual e os governadores seguirão trabalhando até a formação de um novo governo", destacou o conselho no comunicado, que informa que o governo nomeado por Mubarak alguns dias antes da renúncia permanece no comando de forma provisória. Além disso, o comunicado destaca que o Egito respeitará todos os tratados regionais e internacionais, confirmando implicitamente que o tratado de paz com Israel permanecerá sem alterações. "A república árabe do Egito vai manter o compromisso com todos os tratados regionais e internacionais", afirma o comunicado do Conselho Supremo. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, elogiou o compromisso das Forças Armadas egípcias de respeitar o tratado de paz com Israel. "O tratado de paz em vigor há tanto tempo no Egito tem sido muito positivo para ambos os paises e é a pedra fundamental para a paz e a estabilidade no Oriente Médio", afirma o comunicado do gabinete de Netanyahu. O atual governo egípcio permanecerá no poder provisoriamente para administrar os assuntos correntes, segundo os militares, que assumiram o controle do país depois da queda do regime de Mubarak. "O governo atual e os governadores seguirão trabalhando até a formação de um novo governo", destacou o conselho no comunicado, que informa que o governo nomeado por Mubarak alguns dias antes da renúncia permanece no comando de forma provisória. Os anúncios integravam o "comunicado número quatro" do Exército desde o início da revolta popular contra o ex-presidente Hosni Mubarak, o texto mais explícito até o momento das intenções dos militares após a queda do ditador. Neste domingo, primeiro dia de trabalho depois do fim de semana muçulmano, o gabinete manterá sua primeira reunião nesta nova etapa, segundo a agência Mena. A justiça egípcia, por sua vez, proibiu neste sábado que o ex-primeiro-ministro Ahmad Nazif e o atual ministro da Informação, Anas el Fekki, saiam do país. O procurador-geral Abdel Magid Mahmud tomou esta decisão em função dos processos abertos contra os dois políticos. Ele também decidiu congelar os bens do ex-ministro do Interior, Habib el Adli, e de sua família em função de queixas relativas à transferência de mais de quatro milhões de libras egípcias (660.000 dólares) de uma empresa de construção para sua conta pessoal. Mostra de uma volta à normalidade, o Exército anunciou mudanças no toque de recolher, que agora ficará em vigor de meia-noite até 6H00. Passada a noite de celebração eufórica pela queda do presidente Mubarak, os jovens militantes que passaram 18 dias na Praça Tahrir se mostraram determinados a continuar lutando até que o ex-chefe de Estado seja julgado e a sociedade democrática que anseiam se torne uma realidade. "A luta não acabou porque temos ainda muitas reivindicações", declarou Manal Ghannamy, 40 anos, professora de francês e membro do movimento "Todos somos Jalel Said", nome dado em homenagem a um jovem que morreu nas mãos da polícia em junho. Mohamed Rida, uma ativista de 26 anos, é enfática: "Não queremos ser governados pelo exército". "Mas daremos ao exército o tempo necessário para fazer as reformas. O exército nos tratou com tanto respeito que agora temos que confiar em suas promessas", explica ainda. As duas acham, no entanto, que esta luta deve ser travada em outros cenários e que chegou o momento de desalojar a Praça Tahrir, onde acamparam junto a milhares de pessoas. Se não desconfiam das Forças Armadas, os jovens egípcios se mostram, por outro lado, com um pé atrás em relação à Irmandade Muçulmana, a principal força de oposição, apesar de ilegalizada durante a era Mubarak. "Não permitiremos que a Irmandade Muçulmana assuma o poder. Somos todos muçulmanos, mas não somos extremistas", afirma Ghanem. "Esta não será uma república islâmica, aqui não há extremistas e nunca haverá", enfatiza. Muitos se preparam para levantar acampamento, mas, primeiro, armados e vassouras e baldes, limpam o lugar que os acolheu tantos dias. Mas muitos também estão determinados a ficar. "Não nos moveremos daqui até que consigamos o caminho que queremos", afirma Islam Hassan, de 16 anos, que tem a bandeira nacional pintada no rosto. Desde o início do movimento pró-democrático, cerca de 300 pessoas perderam a via em todo o país, segundo a ONU. A polícia, alvo da ira popular depois de sua violenta repressão das manifestações contra Mubarak, se manifestou neste sábado na cidade de Ismailiya, às margens do canal de Suez, alegando que foram obrigados pelos superiores a disparar contra os militantes anti-Mubarak. Um rebelião também foi registrada num presídio do Cairo de onde 600 presos escaparam, segundo a segurança egípcia. Um preso morreu e 20 ficaram feridos.

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