postado em 14/02/2011 09:32
A Itália pediu ontem ajuda internacional para estancar o ;ritmo incessante; de desembarques de imigrantes tunisianos na ilha de Lampedusa. O governo chegou a afirmar que pedirá direito de mobilizar sua polícia na Tunísia para impedir o êxodo. ;A Europa não faz nada. Estou muito preocupado e pedi a intervenção urgente da União Europeia (UE), porque o Magreb está explodindo. Como sempre, nos deixaram sozinhos. Uma intervenção da Europa é indispensável;, disse o ministro italiano do Interior, Roberto Maroni, conhecido pelas posições duras anti-imigração.Roma pediu uma reunião urgente do Conselho de Justiça e Interior da UE. ;Eu vou solicitar autorização ao ministro das Relações Exteriores (do país africano) para que nossas forças possam intervir na Tunísia para bloquear o fluxo. O sistema está em colapso naquele país;, afirmou Maroni. O político italiano, membro da Liga do Norte, partido de direita fortemente contrário à imigração, fez a declaração antes do anúncio de que o chanceler tunisiano, Ahmed Ounaies, pediu demissão do governo de transição.
A Itália enfrenta há dias desembarques incessantes de imigrantes clandestinos tunisianos. Em cinco dias, quase 5 mil pessoas chegaram a Lampedusa, distante 150km da costa da Tunísia. Somente ontem, 977 imigrantes ilegais chegaram de forma clandestina à ilha, localizada no sul da Itália, informou a Guarda Costeira italiana. O comandante do porto de Lampedusa, Antonio Morana, também informou que outras embarcações se aproximavam da ilha. ;A situação é difícil, os desembarques continuam em um ritmo incessante;, reconheceu Morana.
O mar calmo e o tempo bom favorecem a saída da Tunísia de embarcações lotadas de imigrantes clandestinos. O governo italiano proclamou no sábado estado de emergência humanitária, mas as autoridades reconhecem que isso não é suficiente. ;Temos que mobilizar os países do Mediterrâneo que têm navios, aviões e helicópteros para controlar a costa tunisiana;, declarou o ministro das Relações Exteriores, Franco Frattini, ao jornal Corriere della Sera.
;Os clandestinos tunisianos receberão ajuda, mas não poderão ficar no território italiano. Serão repatriados;, sentenciou. Ontem, a ilha de Lampedusa tinha mais de 2 mil imigrantes ilegais detidos, quase todos tunisianos, segundo a polícia.
Desafio interno
A pressão do governo italiano ocorre justamente às vésperas da comemoração pelo primeiro mês da queda do regime de Zine Al Abidine Ben Ali, que durou 23 anos e foi derrubado devido à força das manifestações populares. Os protestos começaram em dezembro e só pararam quando Ben Ali renunciou e fugiu do país. O governo de transição tunisiano precisará agora não só agir para conter o êxodo de imigrantes ilegais como terá que encontrar uma forma mais rápida e efetiva de responder ao desespero da população ; abatida pela pobreza, pelo desemprego e pelo que vê como absoluta falta de oportunidades no país.
Chanceler renuncia
O ministro das Relações Exteriores da Tunísia, Ahmed Ounaies, entregou ontem seu pedido de renúncia ao cargo no governo de transição. Em 7 de fevereiro, Ounaies foi vaiado pelos funcionários do ministério em consequência de declarações feitas três dias antes na França, durante uma visita oficial. Na ocasião, Ounaies elogiou a colega francesa Mich;le Alliot-Marie, a quem chamou de ;amiga da Tunísia;. Alliot-Marie, porém, tem sido muito criticada por franceses e tunisianos por ter proposto a ;experiência; francesa de repressão para conter a revolta popular de janeiro e ter passado o Natal na companhia de um empresário ligado ao clã do presidente deposto Zine El Abidine Ben Ali.