postado em 15/02/2011 09:44
O regime iraniano celebrou nos últimos dias a revolta popular contra regimes ditatoriais do mundo árabe, mas ontem se viu na posição de colocar as forças de repressão em guarda, na capital e em outras cidades, para enfrentar milhares de manifestantes que saíram às ruas para protestar contra o presidente Mahmud Ahmadinejad e o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, em meio a gritos de ;morte aos ditadores;. A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, comparou os acontecimentos no Irã à queda de Hosni Mubarak, no Egito.Na capital, Teerã, segundo as informações recolhidas pelas agências de notícias, batalhões de choque e milicianos pró-regime enfrentaram a multidão com bombas de gás lacrimogêneo e porretes. A agência iraniana Fars mencionou tiroteios e pelo menos um morto. De acordo com fontes ligadas à oposição, centenas de manifestantes teriam sido detidos.
Os protestos podem marcar a retomada da onda de contestação que se seguiu à reeleição de Ahmadinejad, em junho de 2009 ; graças a uma fraude maciça, segundo os candidatos da facção reformista do regime islâmico. Dois deles, o ex-premiê Mir Hossein Mousavi e o ex-presidente do Parlamento Mehdi Karroubi, foram proibidos de convocar marchas em apoio à revolução popular no Egito. Karroubi foi impedido de deixar sua casa desde a última quinta-feira, e ontem as forças de segurança impuseram um bloqueio à residência de Mousavi, para impedir a ambos de se unirem às manifestações.
Para dispersar a marcha que seguia em direção à Praça Azadi (;liberdade;, em persa), policiais com coletes à prova de bala e capacetes andavam de motocicleta, armados com bombas de gás e armas que mancham os manifestantes com tinta. Como a imprensa estrangeira enfrenta restrições no país desde os protestos de 2009, os relatos sobre as manifestações circularam na internet, a exemplo do que aconteceu no Egito. Em uma página do Facebook, opositores do regime islâmico divulgaram vídeos mostrando os enfrentamentos na capital e convocaram para protestos em mais 34 cidades.
Ao longo do dia, os manifestantes tentaram se reunir em diversos pontos de Teerã. Eles andavam em silêncio, inicialmente, mas deram início ao protesto quando chegaram perto da praça. Lá, queimaram retratos de Khamenei e Ahmadinejad, ambos identificados à facção conservadora do regime, e pediam que o aiatolá siga o exemplo de Mubarak.
A polícia bloqueou as saídas das duas principais universidades da capital, de acordo com o site oficial de Mousavai, o Kaleme.com (;palavra;, em farsi). Quando anoiteceu em Teerã, a energia elétrica foi cortada para forçar um toque de recolher. Nas redes sociais, os manifestantes relatavam que iam levar roupas e colchões para a praça, onde os protestos devem continuar hoje. Diversos vídeos foram postados no YouTube ontem ao longo do dia da ação dos policiais contra os opositores.
Hillary apoia
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, não perdeu tempo para declarar apoio aos iranianos e elogiou a ;coragem; dos manifestantes. ;Queremos para a oposição e o povo heroico nas ruas do Irã as mesmas oportunidades dadas à população egípcia na semana passada. Apoiamos os direitos universais do povo iraniano;, disse Hillary, durante visita ao Congresso. O presidente da Turquia, Abdullah Gul, que estava em Teerã, comentou a revolta popular durante discurso que pronunciou ao lado de Ahmadinejad, e pediu que os líderes do Oriente Médio escutem as demandas do povo. ;Muitas vezes, os líderes não prestam atenção aos desejos da nação. O povo, então, age para que os desejos sejam atendidos.;