Agência France-Presse
postado em 15/02/2011 15:32
Cairo - O exército egípcio, no controle do país desde a queda do presidente Hosni Mubarak, deu nesta terça-feira dez dias de prazo a uma comissão de juristas para reformar a Constituição e advertiu à população que novas greves serão desastrosas para o país.O Conselho Supremo das Forças Armadas, que assumiu as rédeas do poder desde a renúncia de Mubarak na sexta-feira passada, suspendeu no domingo a Constituição e dissolveu o Parlamento, prometendo eleições democráticas nos próximos meses.
O exército nomeou uma comissão de juristas para revisar a Constituição que "deve acabar o trabalho no mais tardar em dez dias", segundo um comunicado oficial. Os membros se reuniram pela primeira vez nesta terça-feira.
"Nós vamos revisar a Constituição para retirar todas as restrições e obstáculos e para responder às aspirações da revolução e do povo", declarou à AFP um dos membros desta comissão, Sobhi Saleh, advogado e ex-deputado da Irmandade Muçulmana.
De acordo com dois cibermilitantes envolvidos na revolta popular que se encontraram com o exército no domingo, os militares prometeram um referendo sobre essas emendas em dois meses.
A comissão está encarregada de alterar cinco artigos, incluindo aqueles que tratam das condições muito restritivas de candidatura às eleições presidenciais e o modo de supervisão do pleito.
A Irmandade Muçulmana, oficialmente proibida no Egito, mas tolerada, anunciou que esperava criar um partido político.
Esta irmandade suscita medo aos ocidentais, que temem a instauração definitiva de um regime islâmico, mas os políticos muçulmanos dizem que não são a favor de um Estado religioso.
Preocupado com a crise econômica que o Egito enfrenta, o exército advertiu ainda que novas greves serão desastrosas para o país.
"O conselho está consciente das condições sociais e econômicas que a sociedade enfrenta, mas esses problemas não podem ser resolvidos até que as greves e os protestos acabem", afirmaram os militares, citados pela agência oficial MENA.
Em coletiva de imprensa na Casa Branca, o presidente Barack Obama disse que a situação no Egito, depois da saída de Hosni Mubarak, apresentava sinais positivos, apesar de ainda "haver muito trabalho por fazer".
Também disse que os Estados Unidos enviaram uma "mensagem forte" a seus aliados no Oriente Médio, dando como exemplo as mudanças políticas ocorridas no Egito.
Nesse contexto, afirmou esperar que os iranianos tenham a coragem de continuar protestando contra o regime e criticou o Irã pela repressão dos protestos populares.
Os movimentos sociais foram suspensos nesta terça-feira no Egito por causa do feriado que marca o aniversário de nascimento do profeta Maomé. Ainda assim, muitos manifestantes ameaçavam retomar as greves em vários setores-chave.
O ministro das Relações Exteriores, Ahmed Abul Gheit, pediu à "comunidade internacional suporte à economia egípcia duramente afetada pela crise política deflagrada no país", segundo um comunicado recebido nesta terça-feira pela AFP.
No auge da revolta, a economia egípcia perdia ao menos 310 milhões de dólares por dia, segundo uma nota divulgada recentemente pelo Crédit Agricole, que reviu para baixo as previsões de crescimento do Egito para 2011 de 5,3% para 3,7%.
Greves trabalhistas e manifestações paralisaram nestes últimos dias os setores de transporte, bancário, petroleiro, têxtil e até alguns meios de comunicação oficiais e algumas entidades governamentais. Os grevistas reivindicam aumento de salários e melhores condições de trabalho.
A Bolsa do Cairo, fechada desde 27 de janeiro, anunciou nesta terça-feira que continuaria sem atividades "até que o trabalho retomasse no setor bancário".
A União Europeia começou nesta terça-feira a estudar a possibilidade de congelar os bens de vários ex-dirigentes egípcios de alto escalão, enquanto que a França já tomou a decisão de colocar os ativos em monitoramento à espera de um posicionamento formal da UE.