Dubai - Uma onda de manifestações sem precedentes contra vários regimes autoritários estabelecidos há décadas, no Oriente Médio, prosseguia nesta quinta-feira (17/2), sendo reprimida à força. Foram, pelo menos, 17 mortos em Líbia, Bahrein, Iêmen e Iraque, em 48 horas.
A revolta popular na Tunísia e no Egito, onde os presidentes Zine El Abidine Ben Ali e Hosni Mubarak foram tirados do poder, encorajou os movimentos de protestos em outros países árabes, tendo em comum a ausência de democracia, somada à corrupção, nepotismo e a problemas econômicos e sociais.
Ante os protestos, a comunidade internacional, com os Estados Unidos na liderança, assim como as organizações de defesa dos direitos do Homem pediram aos dirigentes que não recorram à violência contra os manifestantes, ouvindo suas queixas.
Internet
Na Líbia, apelos foram feitos através do Facebook à realização de um "Dia da Ira" contra o regime do coronel Muammar Kadhafi, no poder há 42 anos. Seis pessoas foram mortas em Benghazi, a segunda cidade do país, segundo sites da oposição no exterior.
"Confrontos violentos" entre forças da ordem e manifestantes neste feudo da oposição, situado a 1.000 km a leste de Trípoli, fizeram também 35 feridos, segundo os sites Al Youm e Al-Manara.
O movimento de contestação na Líbia começou na terça-feira em Benghazi, onde 38 pessoas ficaram feridas. A cidade de Al-Ba;da, a 1.200 km a leste de Trípoli, foi invadida pelos protestos, durante os quais duas pessoas morreram na quarta-feira, segundo o jornal líbio Quryna.
Manifestações violentas aconteceram em Zenten (145 km a sudoeste de Trípoli) onde várias pessoas foram detidas e prédios públicos e da polícia foram incendiados, relatou o Quryna em seu site, mas não houve vítimas.
Ante as manifestações hostis, centenas de partidários do coronel Kadhafi foram à Praça Verde, no centro de Trípoli, poupada até então pelas concentrações contra o governo.
Bahrein
Na região do Golfo, Bahrein, o exército foi para as ruas de Manama, determinado a restabelecer a ordem após a repressão pela polícia de manifestação popular que custou a vida a três pessoas e despertou a ira da oposição.
Foi a primeira vez, numa monarquia árabe do Golfo que ocorre um evento desta amplitude para exigir reformas políticas.
Profundamente inquietos, os aliados regionais do pequeno reino declararam "apoio total a Bahrein". O ministro bareinita das Relações Exteriores, Khaled ben Ahmed Al-Thani, justificou a intervenção policial pela necessidade de impedir um "conflito religioso e uma crise econômica".
No total, cinco manifestantes morreram desde o início da contestação na segunda-feira por iniciativa de internautas para reclamar reformas políticas e sociais. O apelo foi seguido pela maioria xiita que se considera discriminada neste pequeno arquipélago do Golfo governado por dinastia sunita.
No Iêmen, país pobre e instável do sul da Península Arábica e um aliado importante de Washington, na sua luta contra Al-Qaeda, as manifestações se multiplicaram desde domingo, fazendo três mortos no Sul, segundo fontes médicas.
Em Aden, no sul do Iêmen, um manifestante morreu e dez ficaram feridos por tiros disparados pela polícia, num protesto contra o presidente Ali Abdallah Saleh.
Na capital, Sanaa, cerca de 2 mil estudantes foram agredidos desde a saída do campus da Universidade por partidários do partido presidencial, armados de paus e pedras. Vinte e cinco pessoas ficaram feridas.
A tropa de choque atirou para o ar para separar os dois lados.
Os manifestantes querem a partida de Saleh, no poder há 32 anos, mesmo após ter anunciado que desistiria de concorrer a um novo mandato em 2013, prometendo reformas.
No Iraque, o movimento de contestação social lançado em 3 de fevereiro estendeu-se ao Curdistão autônomo (norte) onde duas pessoas morreram e 47 ficaram feridas a balas em Suleimaniyeh.
Cerca de 3 mil pessoas, em maioria jovens, acusam de "corrupção" os dois partidos tradicionias curdos. Na véspera, ao sul de Bagdá, um adolescente de 16 anos foi morto e 27 pessoas ficaram feridas, durante protestos violentos.