Agência France-Presse
postado em 19/02/2011 11:59
A repressão às manifestações de oposição ao regime na Líbia, que já deixou dezenas de mortos, aumentou ainda mais neste sábado, mas a mobilização pela saída do ditador Muamar Kadhafi se intensificou ainda mais no leste do país.Para a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), que cita informações colhidas junto a equipes médicas e testemunhas, pelo menos 84 pessoas já foram mortas na Líbia desde o início dos protestos, na última terça-feira. "As autoridades líbias devem parar imediatamente com os ataques contra os manifestantes pacíficos, protegendo-os dos grupos armados pró-governo", afirmou a HRW em um comunicado.
Uma fonte médica informou à AFP neste sábado que 18 pessoas foram mortas nas manifestações organizadas na sexta-feira em Benghazi, violentamente reprimidas.
"Dezoito pessoas morreram na sexta-feira em Benghazi", declarou uma fonte do hospital Al-Jalaa, que pediu o anonimato. A HRW, no entanto, aponta ainda mais mortes na sexta.
"Milhares de manifestantes se reuniram nas cidades líbias de Benghazi, Al Baida, Ajdabiya, Zawiya e Derna, no leste, em 18 de fevereiro de 2011, após os violentos ataques contra protestos pacíficos no dia anterior que mataram 20 pessoas em Benghazi, 23 em Al Baida, três em Ajdabiya e três em Derna", denunciou a entidade.
Uma contagem da AFP realizada com base em diferentes fontes locais na tarde de sexta-feira totalizava 41 mortos, depois que vários edifícios públicos e automóveis foram incendiados em várias cidades, segundo testemunhas e veículos de comunicação.
Segundo a Arbor Networks, empresa de tecnologia da informação com sede nos Estados Unidos, a internet foi cortada na Líbia na sexta-feira, para evitar que os manifestantes convocassem novos protestos e se organizassem através da rede.
O procurador geral da Líbia, Abdelrahman Al Abar, ordenou uma investigação sobre a violência usada contra os manifestantes, afirmou neste sábado uma fonte próxima à justiça, que pediu o anonimato.
"O procurador ordenou a abertura de uma investigação sobre as razões e o balanço dos acontecimentos em algumas cidades, e apelou pela rapidez dos procedimentos para julgar todas as pessoas acusadas de mortes e saques", disse.
Ao mesmo tempo, uma fonte ligada ao poder revelou que as forças de segurança "receberam ordens de sair do centro da cidade de Al Baida para evitar enfrentamentos com os manifestantes".
A situação em Trípoli, por outro lado, continua mais tranquila neste sábado, assim como nos dias anteriores, quando defensores do regime organizaram uma passeata carregando fotos de Kadhafi.
Kadhafi ainda não falou publicamente sobre a mobilização contra seu regime, que já dura quatro décadas, mas os comitês revolucionários, coluna vertebral do governo, ameaçaram os manifestantes com uma resposta "violenta e fulminante", em declarações citadas pelo site do jornal Azahf Al Ajdar, que pertence ao ditador.
"O poder do povo, o poder das massas, a revolução e o líder (Kadhafi) representam linhas vermelhas. Qualquer um que tente ultrapassá-las ou se aproximar delas corre o risco do suicídio (sic) e brinca com fogo", advertiu a entidade oficial.