postado em 20/02/2011 08:40
O mundo inteiro assistiu quando jovens árabes resolveram sair às ruas em busca de mudança. Cansados de esperar, eles levantaram os braços para pedir um país mais justo ; primeiro na Tunísia, depois no Egito e agora em vários países do Oriente Médio. Não havia razões ideológicas ou religiosas para que eles estivessem ali, apenas o desejo de um futuro melhor. A onda de protestos em busca de um governo mais democrático começou em dezembro e tomou ares de uma revolução. Já derrubou o ditador tunisiano, Zine El-Abidine Ben Ali, e o egípcio, Hosni Mubarak. Agora, o movimento se propaga com a velocidade da internet, que se tornou uma arma pacífica nas mãos dos manifestantes. Para descobrir os desejos e objetivos dessa nova geração árabe, o Correio entrevistou quatro jovens, do Egito, da Tunísia e do Iêmen, que revelaram a vontade de escrever uma nova história para seus países.Entre os milhares de egípcios que obrigaram Mubarak a sair, depois de três décadas no poder, estava Ahmad Talaat. No auge dos seus 20 e poucos anos, ele foi à praça Tahrir na esperança de ter sua voz ouvida. ;Queria, como todos que estavam ao meu lado, uma revolução contra a corrupção e a injustiça, a favor da liberdade, da dignidade, do pão e de mais emprego;, conta o músico. Para ele, os jovens do Egito e do mundo árabe não têm opção senão lutar pela mudança. ;Por trás de toda essa paixão existem motivações. Os jovens representam a maior parte da população e, ao mesmo tempo, são as maiores vítimas dos regimes corruptos. Enfrentamos problemas sérios de desemprego e pobreza;, aponta.
Nos países árabes, cerca de 60% da população tem menos de 30 anos, segundo o instituto Pew Research Center. O grande problema para eles é a falta de oportunidades de trabalho. Muitos têm diploma universitário, mas não conseguem colocação. A taxa de desemprego é, em média, de 30% para quem tem entre 20 e 29 anos. Uma estimativa feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) afirma que, para atender essa demanda, seria necessário criar 51 milhões de empregos até 2020. ;É preciso entender que o está acontecendo no mundo árabe não é uma questão de religião, mas de sobrevivência. Lutamos por causa de todas as coisas ruins que aconteceram nos nossos países, nos últimos cinco anos, várias mortes sem causa e uma enorme falta de comprometimento do governo;, comenta o estudante egípcio Mohamed Abd El-Hameed, de 22 anos.
A imenita Aliya Naim, 20 anos, vive nos Estados Unidos, mas participa ativamente dos protestos pela internet e é integrante do Projeto Paz para o Iêmen. A estudante acredita que a revolução no mundo árabe foi consequência natural de uma realidade econômica difícil e da total falta de perspectiva profissional. ;Quando você tem uma situação na qual os jovens não têm expectativa para o futuro, eles encontram mais esperança no ativismo do que em ficar no ciclo de pobreza e desemprego. Os jovens querem apenas uma chance de colocar comida na mesa, mas são constantemente impedidos pelo sistema. A revolta é a única solução;, analisa.