postado em 23/02/2011 13:07
Maputo (Moçambique) ; O clima de revolta social no Norte da África pode começar a ser sentido no centro do continente, caso a convocação de um grupo angolano dê resultado. ;Sem falta, a manifestação antigovernamental em Angola vai começar à 0h do dia 7 de março de 2011, de Cabinda a Cunene;, diz texto divulgado em uma página da internet.A convocação é assinada por alguém identificado como "Agostinho Jonas Roberto dos Santos" - uma clara referência a figuras históricas do movimento de independência do país (Agostinho Neto, Jonas Savimbi, Holden Roberto e Wilson dos Santos).
Por e-mail, o autointitulado líder do Movimento Revolucionário do Povo Lutador de Angola (MRPLA) disse à Agência Brasil que infelizmente, por segurança, não pode revelar quem faz parte do grupo. ;Mas, estamos na fase final de mobilização do nosso povo para o grande dia;.
Segundo ;Agostinho Jonas;, a manifestação não está ligada a nenhum partido politico angolano. ;Isso foi uma iniciativa de um jovem. E, como vês, está num bom caminho, porque Angola toda já recebeu a nossa mensagem e temos o apoio de muitos angolanos na diáspora (na França e no Canadá);, assegurou.
O site convoca a população para uma marcha a partir do Largo da Independência, em Luanda, exigindo a saída do Zé Dú (o presidente angolano José Eduardo dos Santos) e seus ministros. De acordo com a mensagem, ;os angolanos estão cansados da pobreza extrema, da cultura de medo e intimidação, da miséria, da autocracia e outros males (...);.
As reclamações são focadas na figura do presidente (há quase 32 anos no poder), na mudança constitucional que acabou com as eleições diretas para o cargo e o ;controle dos recursos; do país, segundo maior produtor de petróleo da África.
A página foi criada em 4 de fevereiro, ;tendo como fonte de inspiração as manifestaçõeses no mundo árabe;, segundo o próprio autor. De acordo com ele, até agora o governo não o procurou, apesar do espaço que o assunto tem ganhado em discussões na internet e até em alguns veículos angolanos.
;Estamos muito cautelosos na campanha de mobilização nos nossos bairros e em toda Angola;, afirmou o líder. ;Estou a ser diariamente alertado que o MPLA (partido do governo) está à minha procura;.
O secretário de Informação do MPLA, Rui Falcão Pinto de Andrade, não acredita que situação semelhante à dos países do Norte da África se repita em Angola. Citado pela Voz da América (serviço oficial de radiodifusão do governo dos Estados Unidos), Andrade disse acreditar que ;José Eduardo dos Santos é um fator de estabilidade para o partido no poder;.
Em entrevista à Rádio Nacional de Angola, o secretário-geral do MPLA, Dino Matross, afirmou que o governo trabalha para a estabilidade do país e alertou que ;o poder não pode estar nas ruas;. Para ele, o que for considerado abusivo não será tolerado.
;Nós temos uma nova Constituição, temos leis, e é com base na nova Constituição e nas leis que vamos agir;, disse. ;Sabemos o que aconteceu (na guerra civil), perdemos vidas, a infraestrutura foi destruída, quase não havia empregos para as pessoas;.
;Agostinho Jonas; disse que espera pela ação da polícia, caso o protesto convocado por ele para o dia 7 de março realmente ocorra. ;Mas estamos a apelar à nossa Polícia Nacional e às Forças Armadas angolanas que juntem-se ao povo, como foi no Egito; acrescentou, na entrevista por e-mail. ;Eles não têm nada a perder porque estão na mesma miséria, pobreza e sob um regime que nem se interessa pelas necessidades deles. São benvindos à nossa manifestação;.
A página já provocou várias discussões em outros blogs, onde ;Agostinho Jonas; e seu movimento são chamados, entre outros adjetivos, de "aberração", "logro", "estranho" (por ter criado um movimento com sigla tão parecida com a do partido do governo), "pouco inteligente" (por ter feito uma convocação pública com muita antecedência). Ele também foi definido como "corajoso" e recebeu palavras de apoio.
;Nós apenas daremos fim a essa manifestação quando [José Eduardo dos] Santos, seus ministros e companheiros renunciarem ao poder e saírem de Angola;, afirmou.
A Embaixada de Angola em Brasília está sem adido de imprensa e não confirmou nem desmentiu as informações sobre uma eventual mobilização no país.