Agência France-Presse
postado em 24/02/2011 09:43
AL BAIDA - O líder líbio Muamar Kadhafi perdeu o controle do leste do país para a insurreição popular e enfrentava nesta quinta-feira (24/2) uma forte pressão ocidental para evitar um banho de sangue, que pode provocar um grande êxodo e uma desestabilização ainda maior desta rica nação petroleira.Kadhafi discursará em breve ao país na cidade de Zawiyah, situada 50 km ao oeste de Trípoli, anunciou nesta quinta-feira o canal de televisão estatal da Líbia, apenas dois dias depois do dirigente ter convocado seus simpatizantes a ;esmagar; a insurreição.
O presidente americano, Barack Obama, qualificou de escandalosa a repressão que matou centenas de pessoas e afirmou que os responsáveis pela violência devem "responder" por seus atos.
A União Europeia (UE) também se mobiliza para decidir eventuais sanções e tenta encontrar uma resposta para a fuga de milhares de líbios e estrangeiros do país do norte da África. A questão será debatida pelos ministros da UE nesta quinta-feira em Bruxelas.
O bloco anunciou ainda que busca apoio naval militar para retirar até 6.000 europeus que permanecem na Líbia.
O ministro italiano do Interior, Roberto Maroni, pediu a ajuda dos aliados europeus para que Roma consiga enfrentar o risco de uma crise humanitária catastrófica em consequência da violência na Líbia, que pode provocar uma fuga em massa para as costas europeias.
"Nós estamos enfrentando uma emergência humanitária e eu peço à Europa que adote todas as medidas necessárias para enfrentar uma crise humanitária catastrófica", disse.
Maroni destacou que a Itália enfrenta uma "potencial invasão de 1,5 milhão de pessoas", o que segundo ele deixaria o país "de joelhos".
Organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram ataques aéreos e bombardeios contra civis. Segundo a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), a repressão na Líbia provocou 640 mortes desde 15 de fevereiro.
A revolta parece solidamente implantada na costa leste do mediterrâneo líbio, na região de Cyirenaica, da fronteira com o Egito até as cidades de Tobruk e Benghazi, passando por Al Baida. Nas estradas rebeldes armados estão posicionados ao lado de soldados que aderiram à causa dos insurgentes.
Nesta quinta-feira, a cidade de Zuara, 120 quilômetros ao oeste de Trípoli, foi abandonada pela polícia e os soldados, passando ao controle do povo, afirmaram testemunhas que chegaram à Tunísia.
"Não há policiais nem militares, o povo é quem controla a cidade. Muitos tiros foram disparados ontem (quarta-feira) entre 19H00 e 22H00", declarou à AFP o egípcio Mahmud Mohamed Ahmed Atia, que conseguiu fugir para a Tunísia pela estrada.
Quase 30.000 tunisianos e egípcios fugiram da Líbia desde segunda-feira, informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM), que prevê a necessidade de assistência para dezenas de milhares de pessoas nas fronteiras.
O ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, declarou-se nesta quinta-feira favorável a uma "investigação internacional sobre as atrocidades" cometidas na Líbia durante a sangrenta repressão dos protestos contra o regime de Muamar Kadhafi.
"Temos os restos de um governo que está disposto a utilizar a força e a violência contra seu próprio povo", declarou Hague, em entrevista à rede BBC.
A França destacou que a brutal repressão das manifestações na Líbia pode ser caracterizada como um crime contra a humanidade e propôs que entre as medidas estudadas contra Trípoli "um recurso à justiça internacional".
Ao contrário de Washington e Bruxelas, a Turquia informou que não deseja sanções contra o regime líbio que possam castigar a população, em declarações à AFP do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan.
"Não é correto atuar com precipitação neste tipo de situação. E não é correto, neste momento, adotar sanções contra a Líbia, pois estas medidas castigarão a população", declarou Erdogan.
Kadhafi, 68 anos, no poder desde 1969, ameaçou na terça-feira "lutar até a morte" e ordenou que suas tropas esmaguem a rebelião.
Mas um dos filhos do ditador, o ex-jogador de futebol Saadi Kadhafi, declarou que o "guia da revolução" estaria considerando outros planos, como o de virar um conselheiro para uma nova geração de dirigentes.
"Meu pai seria como o avô que dá conselhos", declarou Saadi Kadhafi em entrevista por telefone ao jornal britânico Financial Times.
"Depois deste terremoto positivo, temos que fazer algo pela Líbia. Devemos ter sangue novo para governar nosso país", disse.
O terceiro filho do coronel Kadhafi afirmou ainda que 85% do país está "muito tranquilo e seguro" e que o regime recuperará o controle total "mais cedo ou mais tarde".
Ao mesmo tempo, a Al-Qaeda do Magreb Islâmico (AQMI) anunciou apoio total aos manifestantes líbios e prometeu fazer o possível para ajudar na insurreição contra o coronel Muamar Kadhafi, informou nesta quinta-feira o SITE, centro americano de vigilância de sites islâmicos.
"Faremos todo o possível para ajudá-los, com o poder de Alá, porque vosso combate é o combate de todo muçulmano que ama Alá e seu mensageiro", afirma o comunicado da AQMI.
A tradução para o inglês do comunicado da AQMI não menciona a instauração do emirado islâmico pela Al-Qaeda, dirigido por um ex-preso de Guantánamo, em Derna, leste da Líbia, como anunciou na quarta-feira o vice-ministro das Relações Exteriores, Khaled Kaim.
Os habitantes da região desmentiram a notícia.
A AQMI celebra ainda as revoluções no Egito e na Tunísia. O texto da organização terrorista destaca ainda que é hora do "impostor, pecador, desgraçado com coração de pedra" Muamar Kadhafi ter um destino parecido.
"Declaramos nosso apoio e nossa ajuda à revolução líbia e a suas demandas legítimas, e garantimos o nosso povo na Líbia que estamos com vocês não os abandonaremos", afirma o comunicado, publicado em páginas jihadistas, segundo o SITE.