Bagdá - A escalada de revolta, nesta sexta-feira (25/2), na Líbia, tem incentivado manifestantes de todo o mundo árabe, dezenas de milhares dos quais têm lotado as ruas de cidades da Tunísia ao Iêmen para pedir melhores condições de vida e mais liberdade.
Simpatizantes do ditador Muamar Kadafi mataram alguns manifestantes, abrindo fogo indiscriminadamente contra fiéis que saíam do local de orações nas mesquitas, desesperados para evitar novos protestos no dia semanal muçulmano de descanso, disseram moradores à AFP.
Com policiais e tropas mobilizados no entorno de mesquitas, líderes religiosos fazem sermões impostos pelas autoridades pedindo o fim da "sedição", disseram fiéis. Trocas de tiros também foram reportados em um distrito do oeste.
Em Benghazi, segunda cidade do país, onde os protestos contra o regime de 40 anos de Kadafi emergiram, começou a crescer o temor de que suas fracas defesas possam estar vulneráveis a um contra-ataque, depois da euforia da libertação.
Em Misrata, 150 km ao leste da capital, voluntários ajudaram a fortificar a terceira cidade da Líbia com contêineres e sacos de areia, temendo que os cerca de 500 soldados leais à Brigada Hamza busquem abrigo em uma base aérea vizinha.
Já esvaziado, o regime enfrentou novas deserções enquanto seus embaixadores na França e na organização cultural da ONU, Unesco, renunciaram, os últimos de uma série de representantes líbios no exterior a anunciar que estão "se unindo à revolução".
Internet
Os protestos que varrem o Oriente Médio e que já derrubaram Zine el Abidine ben Ali, da Tunísia, e Hosni Mubarak, do Egito, foram amplamente organizados com base no site de relacionamentos Facebook.
Eles têm unido uma diversidade de grupos, que protestam contra serviços públicos e pedem reformas políticas mais amplas em alguns dos países mais corruptos do mundo, com forte censura.
No Iraque, os primeiros protestos significativos contra o fracasso do governo em fornecer serviços básicos deixaram no total 18 mortos e 124 feridos, prédios em chamas e forçou um governo da província a renunciar.
As forças de segurança usaram jatos d;água e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar milhares de manifestantes em Bagdá, onde jovens atiraram pedras na tropa de choque no "Dia de Fúria" e derrubaram dois muros de concreto que foram erguidos para selar o acesso à intensamente fortificada Zona Verde, em Bagdá, onde fica a embaixada americana.
"Já se passaram oito anos e não fizeram nada por nós. Chega de palavras, queremos ação", disse Ammar Raad, de 33 anos.
O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, acusou os insurgentes da Al-Qaeda e forças leais ao ditador deposto, Saddam Hussein, de terem organizado as manifestações.
Iêmen
No Iêmen, dezenas de milhares protestaram após as orações semanais, pedindo a renúncia do presidente veterano, Ali Abdullah Saleh. Na cidade de Aden, a polícia matou um manifestante e 20 pessoas ficaram feridas nos confrontos.
Na capital, milhares marchavam rumo a uma praça principal perto da Universidade de Sanaa, a maioria mulheres, cantando "Fora, fora" e "Deus seja testemunha de seus atos, Abdullah". Os organizadores disseram que a multidão chegou a 100 mil.
Os manifestantes se referiram a esta sexta-feira como "o começo do fim" para o regime de Saleh, que está no poder desde 1978.
Em Aden, violentos confrontos explodiram, quando milhares de pessoas que marchavam na direção da intensamente patrulhada praça Al-Aroob, em Khor Maksar, foram confrontadas por forças de segurança que dispararam bombas de gás lacrimogêneo e armas de fogo para dispersá-los, informaram testemunhas.
Tunísia
Na Tunísia, dezenas de milhares participaram de uma marcha pedindo a renúncia do governo transitório do premier Mohamed Ghannouchi, na maior manifestação realizada desde a queda de Ben Ali, no mês passado.
Os tunisianos estão furiosos de que integrantes do regime autoritário de Ben Ali ainda estejam no poder e temem que sua revolta possa ser esvaziada.
Os manifestantes gritaram "Revolução até a vitória", "Ghannouchi, pegue seus cães e vá" e "Não ao confisco da revolução".
No Bahrein, dezenas de milhares de manifestantes lotaram Manama para pedir o fim do regime sunita no poder, enquanto o chefe de Estado maior americano, Mike Mullen, reafirmou o compromisso de Washington com o contestado rei Hamad.
Alguns manifestantes levavam megafones, gritavam palavras de ordem e faziam discursos, enquanto a marcha avançava na direção da rotatória da Pérola, rebatizada de "praça dos mártires", em homenagem às sete vítimas fatais da violenta repressão policial em um protesto na semana passada.
A Jordânia também assistiu ao protesto de milhares de pessoas em Amã, pedindo reformas políticas em um "Dia da Fúria", organizado pela poderosa oposição islamita e outros partidos.