Santiago - O Chile deu sinal verde nesta sexta-feira (25/2)para a construção da megacentral termoelétrica Castilla, propriedade do magnata brasileiro Eike Batista, que será instalada em uma área rica em biodiversidade, despertando uma forte rejeição da população.
A termoelétrica, considerada o maior projeto deste tipo da América do Sul, foi aprovada por unanimidade pelos membros da Comissão de Avaliação Ambiental de Atacama, a região no norte do Chile onde a usina deverá se localizar, em meio a grandes minas de cobre do país.
"O projeto cumpre as normas ambientais vigentes", afirmou a intendente (governadora) de Atacama, Ximena Matas, que presidiu a reunião. Cerca de 250 manifestantes compareceram ao local da encontro, alguns portando bandeiras negras, em protesto contra o projeto.
A aprovação da construção da termoelétrica ocorreu ao fim de um prolongado processo de avaliação ambiental, no qual em várias ocasiões sua denominação passou de "poluente" a "incômoda".
Segundo grupos ambientalistas, a termoelétrica ameaça a extraordinária biodiversidade da região de Punta Cachos, que abriga colônias de tartarugas marinhas, populações de pinguins e lobos marinhos, entre outros.
A ONG Oceána alertou para os efeitos negativos da emissão de grandes quantidades de dióxido de carbono e poeira de carvão na atmosfera, assim como a elevação da temperatura do mar, que, de acordo com ela, alterarão os ecossistemas da região.
Capacidade
Em 2010, o Chile cresceu 5,2%, enquanto sua geração elétrica só subiu 3%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). O presidente do Chile, Sebastián Piñera, enfatizou que se o país quiser seguir crescendo neste ritmo, precisa duplicar sua capacidade energética.
A central Castilla, que se localizará 80 km ao sul de Copiapó, a capital regional, tem um investimento de 4,4 bilhões de dólares por parte do empresário Eike Batista, e pretende gerar 2.100 MW por carvão e mais 254 MW em usinas adjuntas de combustão a diesel.
As obras devem durar quatro anos, envolvendo a contratação de cerca de 1.800 funcionários, informou a companhia.
Sua instalação reforçará o papel da geração térmica a partir de carvão e petróleo na matriz energética chilena, que até o momento ocupa o primeiro lugar com 42,3% da geração elétrica, seguido pela energia hidráulica (33,8%), a de ciclo combinado a base de gás natural (23,5%) e a eólica (0,4%), segundo o INE.
Samuel Leiva, presidente do Greenpeace no Chile, destacou que o país está "à beira de uma carbonização profunda da matriz energética" e disse que no Chile "não existe clareza na política energética", acrescentando que o país "não precisa da central Castilla".
"Grande notícia"
Alguns especialistas também enfatizam os efeitos que o projeto terá na certificação dos créditos de carbono - acúmulo de emissões de dióxido de carbono produzidas na elaboração de um produto até que chegue ao consumidor - dos produtos de exportação chilenos.
Pedro Litsek, o gerente geral da CGX (a filial no Chile da empresa MPX, de Batista), qualificou a aprovação como uma "grande notícia", que permitirá à empresa "consolidar nossa presença no Chile e levar desenvolvimento ao país".
Litsek afirmou que a usina será a "mais moderna da América do Sul em termos ambientais", e ressaltou que "todos os relatórios dos especialistas que nós contratamos garantem que não há impacto para a saúde e o meio ambiente com este projeto".
A ministra chilena do Meio Ambiente, María Ignacia Benítez, garantiu que seguirá de perto o cumprimento por parte da empresa das condições estabelecidas pela Comissão Avaliadora, como o compromisso de elaborar um estudo da biodiversidade da região.
"Fiscalizaremos a Castilla adequadamente", disse.
Por sua vez, os moradores da região vizinha de Totoral anunciaram que contestarão a aprovação do projeto no Tribunal de Apelações de Copiapó.
Os projetos de termoelétricas causaram forte rejeição entre as comunidades locais. No ano passado, o presidente Sebastián Piñera interveio para que a empresa Suez realocasse uma termoelétrica que seria instalada perto de uma reserva ambiental.