Agência France-Presse
postado em 05/03/2011 18:03
Bin Jawad - A insurgência líbia, que controla o leste do país, travava neste sábado uma guerra em duas frentes contra o exército regular do líder líbio Muamar Kadhafi, especialmente perto de Trípoli, onde os tanques entraram em ação em Zauiya e disparavam contra a população.Perto de Benghazi, reduto da oposição, o balanço de vítimas por duas explosões na sexta-feira de um arsenal militar chegava pelo menos a 27 mortos e dezenas de feridos. Além disso, 10 pessoas morreram em combates em Ras Lanuf, um pouco a sudoeste.
[SAIBAMAIS]Paralelamente, o Conselho Nacional da oposição líbia para preparar a transição política realizou sua primeira reunião oficial neste sábado e declarou ser o "único representante" da Líbia.
"O Conselho declara que é o único representante para toda a Líbia", disse o ex-ministro da Justiça Mustafá Abdeljalil em uma coletiva de imprensa, ao ler um comunicado após a primeira reunião formal do Conselho em Benghazi.
No âmbito diplomático, o regime de Kadhafi pediu à ONU que retire as sanções contra o país.
Os insurgentes líbios continuaram neste sábado seu avanço em direção ao oeste e chegaram à tarde a Bin Jawad, constataram jornalistas da AFP.
"Os expulsamos para além de Bin Jawad e hoje vamos bombardeá-los até que regressem a Sirte", declarou um militar que se uniu à oposição desde o início da revolta na Líbia, que começou em 15 de fevereiro.
Um jornalista da AFP viu grupos de rebeldes em Bin Jawad, uma pequena cidade situada 90 km a leste de Sirte, a cidade natal do coronel Kadhafi.
Aviões líbios sobrevoavam neste sábado Bin Jawad e Ras Lanuf.
"Nestes três últimos dias, 7 mil homens saíram de Benghazi em direção à frente do oeste", assegurou um soldado que se uniu à oposição.
Interrogado sobre o avanço dos rebeldes para Sirte, um militar aposentado que se uniu à oposição declarou que isso dependeria dos eventuais reforços e das condições meteorológicas. Uma tempestade de areia reduzia neste sábado a visibilidade em Ras Lanuf.
O governo de Trípoli desmentiu que a oposição tenha o controle de Ras Lanuf, mas um jornalista da AFP viu na sexta-feira à noite rebeldes localizados no exterior do complexo petroleiro, de quartéis e da delegacia da cidade, um estratégico porto petroleiro.
A segunda frente, Zauiya, 60 km a oeste de Trípoli, está submetida ao cerco das forças de Kadhafi, que tentaram em vão tomar durante a manhã o controle da região, segundo os moradores interrogados por telefone.
Os tanques entraram nas ruas da cidade, disparando contra as casas, de acordo com diversas fontes.
"Os tanques estão em todos os lugares e disparam contra as casas. Vi passar sete em frente à minha casa. Os disparos de obuses não param", disse um morador à AFP.
"Rezem por nós", pediu, antes que a comunicação fosse bruscamente interrompida.
"Estou em meio ao tiroteio. Não posso falar agora", indicou um médico também por telefone.
A cidade de Zauiya, controlada desde 27 de fevereiro pelos rebeldes, é palco desde sexta-feira de violentos combates. Ao menos sete pessoas morreram e dezenas ficaram feridas após uma ofensiva das forças governamentais.
"É horrível o que aconteceu nesta manhã na cidade. Os mercenários disparavam contra os que se atreviam a sair de suas casas, incluindo crianças", declarou à AFP um médico da cidade, que pediu o anonimato.
"Sofremos duas ofensivas do leste e oeste da cidade (...). Agora estamos sitiados pelos dois lados", acrescentou o médico.
A poucos quilômetros da cidade, um jornalista da AFP escutou tiros intermitentes, enquanto caminhões repletos de soldados e milicianos pró-Kadhafi se dirigiam a Zauiya. Tanques e baterias anteaéreas estavam posicionados ao redor da cidade.
Um responsável do regime líbio havia assegurado à AFP na sexta-feira à noite que o oeste do país estava "totalmente sob controle" das forças de Kadhafi, mas que o leste é "problemático".
Com relação às explosões produzidas na sexta-feira em um arsenal militar perto de Benghazi, Mustafá Gheriani, um porta-voz do Conselho Nacional Independente estabelecido pelos insurgentes no leste do país, disse neste sábado à AFP: "Continuamos sem saber com certeza se foi uma sabotagem, um acidente ou um ataque aéreo, mas ninguém viu nenhum avião".
Entretanto, o regime de Kadhafi, além de pedir à ONU o levantamento das sanções, autorizou o governo da Venezuela a criar uma missão de paz.
Na fronteira com a Tunísia, onde as organizações humanitárias tentam evitar uma catástrofe, já são mais de 100 mil os refugiados que fugiram do caos, segundo a defesa civil tunisiana.