Agência France-Presse
postado em 06/03/2011 17:34
Trípoli - Primeiro foram ouvidos tiros no céu de Trípoli, depois a televisão anunciou as cidades "libertadas" pelo exército de Muamar Kadhafi e, no fim, manifestantes comemoraram a suposta vitória do regime. Uma operação de propaganda que desestabilizou a oposição.Os insurgentes, que tomaram o controle do leste do país, despertavam tranquilamente em Benghazi, Ajdabiya e Ras Lanuf enquanto a capital amanhecia com o som de tiros de Kalashnikov e de armamento pesado.
[SAIBAMAIS]Meia hora depois, a rede de televisão Al Libya, muito próxima a Seif al Islam, um dos filhos do coronel Kadhafi, lançou uma série de anúncios: o exército marcha em direção a Benghazi; Tobruk, Misrata e Ras Lanuf recuperadas das mãos de "grupos terroristas"; desestabilizando assim os opositores.
No entanto, jornalistas da AFP em Ras Lanuf, assim como testemunhas contactadas em Tobruk, afirmararam que tudo estava calmo nessas regiões.
A televisão também mostrou imagens de "manifestações de alegria" em Sirte, a cidade natal de Kadhafi, e em Sebha (sul), duas cidades que até agora os rebeldes nunca disseram ter ocupado.
Em meio ao alvoroço da capital, os tiros se intensificaram, fazendo com que milhares de líbios, homens, mulheres e crianças, se reunissem na Praça Verde para cantar, ao ritmo dos tiros de metralhadora, seu amor pelo líder líbio. Estas cenas foram transmitidas imediatamente pela televisão local.
Na Praça, foram distribuídos chapéus com a imagem de Kadhafi, assim como bandeiras verdes, a cor do islã e do regime. A polícia e o exército se uniram à alegria da população, disparando suas armas para o céu de Trípoli.
Na capital, milhares de automóveis desfilavam pelas grandes avenidas, buzinando e comemorando a "vitória".
"Os expulsamos, nós ganhamos", disse Mohammed, dirigindo seu carro. Mas quando foi perguntado sobre as batalhas vencidas pelo exército de Kadhafi respondeu: "Não sei onde ganhamos, mas ganhamos".
Todos na Praça Verde afirmaram ter comparecido de maneira espontânea para celebrar "este grande dia". "Na Líbia, todo o mundo tem uma Kalashnikov, e quando estamos felizes disparamos", afirmou Imed, com sua arma nas mãos, antes de atirar e dar uma gargalhada.
"Apoiamos Kadhafi como se fôssemos apenas um homem: toda a Líbia, todo o norte, o sul, o oeste e o leste também", insiste este membro de uma milícia partidária do governo.
"Agora, o mundo inteiro, Hillary Clinton (a secretária de Estado americana) vê que o povo diz ;sim; a Kadhafi, nosso pai, nosso líder", disse Mohammed, um manifestante que carregava sua filha de um ano nos braços.
As crianças também participaram desta celebração armada: um menino vestido de "tartaruga ninja" tomou em suas mãos a pistola de seu pai; mais à frente, um soldado passou sua AK-47 a um grupo de estudantes que tiraram fotos com a arma e com a fotografia de Kadhafi.
"Ganhamos, a Al-Qaeda se foi para sempre", afirmou um menino de apenas 12 anos, repetindo a versão oficial que acusa o grupo islamita de realizar estas três semanas de revolta na Líbia.