postado em 07/03/2011 09:24
Estamos sós no universo? Essa é uma das mais antigas discussões no mundo científico, mas, pelo menos para um grupo de astrobiólogos da Nasa, a pergunta parece finalmente ter sido respondida. Depois de analisar fragmentos do meteorito Orgueil, caído no sul da França em 1864, pesquisadores do Marshall Space Flight Center afirmam ter encontrado fósseis de bactérias não compatíveis com qualquer outro ser vivo que já habitou a Terra. Para os especialistas, trata-se de vestígios de seres vivos, que há cerca de 4,6 bilhões de anos viveram em algum cometa ou lua distante, tratando-se assim do primeiro vestígio de vida extraterrestre já encontrado.Para chegar a essa conclusão, que, segundo seus autores, deve revolucionar a forma que a possibilidade de vida fora da Terra é vista, os pesquisadores utilizaram métodos de microscopia eletrônica e imagens de raios X. Depois de analisarem outras quatro amostras de rochas que caíram do espaço, os pesquisadores encontraram estruturas diferentes do esperado no meteorito Orgueil. Análises mais aprofundadas mostraram que em seu interior existiam microfósseis tubulares e alongados, equivalentes às cianobactérias encontradas na Terra atualmente, mas que não correspondem a nenhuma espécie já conhecida pelo homem.
A teoria formulada por Richard B. Hoover, principal autor do estudo, publicado na edição desta semana do Journal of Cosmology, é que essas bactérias foram fossilizadas no espaço antes de chegar à Terra. Acidentes cosmológicos, como uma colisão entre cometas, teriam feito esses fósseis viajarem pelo espaço até caírem na Terra, onde estão conservados até hoje. Além de sugerir a existência de vida extraterrestre, o estudo traz a possibilidade da existência de vida em outros tipos de corpos celestes além dos planetas, como em meteoros e cometas. ;A vida pode ter uma distribuição mais ampla do que simplesmente planetária, e não estar limitada ao planeta Terra;, afirmou Hoover à revista americana Cosmic Log.
Dúvidas
Outros especialistas defendem, no entanto, que o ambiente desses corpos celestes é incompatível com a vida. Para Jack Farmer, astrobiólogo da Universidade de Arizona, nos EUA, provavelmente essas bactérias invadiram o meteorito depois que ele entrou em contato com o solo terrestre. ;É bastante provável que essas observações ; se é que são reais ; sejam resultado de contaminação. De qualquer forma, é preciso haver muito mais estudos para garantir a veracidade dessas alegações;, afirma o especialista. ;Fico muito cético em relação a esse tipo de conclusão, e acho que isso não deve ser tratado como ciência comprovada até que tenha sua veracidade comprovada;, disse Farmer ao Correio.
Em seu artigo, Hoover comenta essa possibilidade. Para ele, a estrutura rígida do meteorito impediria a penetração de água, essencial para o crescimento da bactéria. As partículas de rocha que formam o meteorito são agregadas por partículas de sal. Em contato com a água, essas partículas se dissolvem e destroem o meteorito. ;(...) após a entrada no ambiente terrestre, nenhuma das amostras do meteorito Orgueil jamais poderia ter sido submersa em poças de água em estado líquido em quantidade suficiente para sustentar o crescimento de cianobactérias;, completa o pesquisador.
Não é a primeira vez que os estudos de Hoover concluem a existência de fósseis de bactérias em rochas vindas do espaço. Em 1997, o pesquisador anunciou ter encontrado microfósseis semelhantes. Daquela vez, o ;abrigo; das supostas criaturas foi o meteorito Murchison, encontrado na Austrália em 1969. Apesar de o assunto ter sido bastante debatido na época, a comunidade científica nunca chegou a um consenso sobre a veracidade da descoberta.
Para evitar que uma situação semelhante ocorra agora, o pesquisador e o periódico em que a descoberta foi publicada decidiram submeter o estudo à análise de 100 especialistas. Hoover também afirmou ter convidado 5 mil cientistas a criticarem o artigo. ;Nenhuma outra pesquisa na história da ciência passou por uma análise tão completa. Acreditamos que a melhor maneira de fazer avançar a ciência é promover o debate e a discussão;, afirmou, em seu editorial, o pesquisador do Centro de Astrofísica de Harvard Rudy Schild, editor-chefe do periódico.