WASHINGTON - A probabilidade de um contágio das revoluções árabes ao reino saudita é frágil, estimam analistas em Washington em meio a apelos a manifestações, destacando, no entanto, o enorme impacto que teriam na economia mundial.
O primeiro produtor mundial de petróleo que possui muitas diferenças com o restante das sociedades árabes, também tem com elas inúmeros pontos em comum. Como o Egito ou a Tunísia, a Arábia Saudita conta com uma grande população de jovens - 38% dos sauditas têm 14 anos ou menos, segundo números da CIA.
Como outros jovens árabes, a juventude saudita utiliza mais e mais as redes sociais. Foi através do Facebook que foram organizadas as manifestações da semana passada no leste do país. Também no Facebook, eles fazem apelo a um "dia revolucionário" na próxima sexta-feira e críticas aos príncipes idosos.
A renda do petróleo é distribuída desigualmente no país, com 40% da população mergulhada numa pobreza relativa. E o aumento dos preços, principalmente dos alimentos, agravou as frustrações.
A estabilidade observada até então viria da capacidade demonstrada pela monarquia de "controlar" o país, administrando em conjunto a autoridade religiosa e a ajuda econômica, mantendo a mão de ferro dos serviços de segurança. "A maior parte dos descontentes com o que acontece no país e a ação do governo não dirigem sua cólera contra o rei ou a família real. Isto faz uma grande diferença" com os episódios vividos por Ben Ali, Mubarak ou Kadhafi, destaca para a AFP Christopher Boucek, da Fundação Carnegie.
Os sauditas comuns querem mais liberdade política e transparência, insiste ele, mas "ninguém pede uma verdadeira revolução".
A opinião é partilhada por Anthony Cordesman, diretor de estudos do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), apesar de visualizar numerosos fatores de risco.
O especialista enumerou para a AFP os cenários de uma crise possível: tensões entre xiitas e sunitas, má administração da peregrinação a Meca, escândalo envolvendo a família real, crise de sucessão... "Nada disso é provável", afirma ele, destacando os 36 bilhões de dólares em despesas públicas decididas pelo rei Abdullah na esperança de suavizar as tensões.
A monarquia, disse Cordesman, "não apenas tentou ocultar um problema com dinheiro. O anúncio foi reforçado por uma década de gastos sociais em massa. Foram criados empregos, atividades. A monarquia ocupou-se da educação, da saúde e dos serviços fornecidos pelo governo. Isto não os imuniza (contra uma crise maior), mas trabalharam muito bem".
Uma desestabilização da Arábia Saudita, que produz um barril de petróleo em quatro do total absorvido pelo mundo, mudaria "o modo como o globo funciona", estima George Friedman numa análise do escritório privado Stratfor.
Um aumento dos preços da energia seria, certamente, devastador para a retomada econômica mundial. Segundo o ministro britânico Alan Duncan, o preço do barril do bruto (105 dólares quarta-feira) poderia atingir 250 dólares se os extremistas bombardeassem reservatórios, oleodutos ou reservas sauditas. "O tipo de especulação que se seguiria a perturbações na Arábia Saudita ou no Irã (...) se somaria ao imprevisto, porque os operadores se poriam a estocar petróleo", observava no final de fevereiro Michael Levi, do Conselho de Relações Exteriores (CFR), em artigo no Financial Times intitulado "Preparem-se para um novo choque do petróleo saudita".