Agência France-Presse
postado em 10/03/2011 21:08
Washigton - O Congresso dos Estados Unidos debateu nesta quinta-feira (10/3) a ameaça terrorista que representaria a radicalização do Islã americano, durante uma polêmica audiência na Câmara dos Representantes.Para combater a ameaça de um terrorismo "made in USA", a comunidade muçulmana deve se esforçar mais, considerou o representante republicano na Câmara Peter King, ao abrir a audiência.
"Tenho consciência de que o anúncio da organização desta audiência provocou um amplo debate e desencadeou objeções", começou King, classificando os comentários da imprensa e de organizações de defesa das liberdades como "ataques de raiva e de histeria".
Ao discorrer sobre o tema "Crescimento da radicalização da comunidade muçulmana americana e a resposta a esta comunidade", King citou uma pesquisa segundo a qual "15% dos americanos muçulmanos com entre 18 e 29 anos poderiam apoiar atentados suicidas", e este "é o grupo que a Al-Qaeda tenta recrutar".
"Para combater a ameaça, os dirigentes das comunidades muçulmanas devem impor sua autoridade", acrescentou.
"A Al-Qaeda compreendeu que as medidas tomadas depois do 11 de setembro tornaram muito difícil a organização de um atentado em grande escala em solo americano vindo do exterior. Por isso, a organização modificou sua estratégia e passou a recrutar ou a utilizar pessoas que vivem legalmente nos Estados Unidos", afirmou, resumindo sua posição.
A audiência teve um momento de grande emoção quando o representante Keith Ellison, o primeiro muçulmano no Congresso americano, chorou ao prestar depoimento.
"O extremismo violento é uma séria preocupação para todos os americanos, mas a abordagem deste comitê neste assunto em particular é contrário aos valores americanos", disse Ellison.
Diante de uma ameaça islâmica real, "devemos conduzir uma investigação minuciosa e justa que não cause prejuízos", destacou Ellison. Os cidadãos americanos que se envolvem em atividades terroristas são "indivíduos, não comunidades".
Ellison apresentou a mãe de Mohammad Salman Hamdani, paramédico de 23 anos que morreu nos ataques contra o World Trade Center em 11 de setembro de 2001, em um esforço para demonstrar que os muçulmanos fazem parte de um tecido mais vasto de americanos leais e patrióticos.
Mas sua serenidade balançou quando começou a contar a história de Hamdani, que em sua juventude "queria ser visto como um menino americano".
"Ele foi um daqueles primeiros bravos socorristas que perderam a vida nos ataques terroristas de 11 de setembro quase uma década atrás", disse Ellison, mas após os ataques surgiram rumores de que Hamdani teria conspirado com os atacantes.
"Sua vida não deve ser identificada como apenas um membro de um grupo étnico ou apenas um membro de uma religião, mas um americano que fez tudo por seus compatriotas", acrescentou.
Com a voz sufocada pelo choro e às vezes cobrindo o rosto, Ellison terminou seu depoimento e rapidamente deixou o recinto, enquanto um melancólico King e outros integrantes do comitê observavam.
Grupos de defesa de Direitos Humanos, parte da comunidade muçulmana do país e vários pesquisadores denunciaram o caráter simplista da audiência. Essas organizações compararam na quarta-feira, durante uma coletiva de imprensa, Peter King com Joseph McCarthy, o senador americano que conduziu uma caça às bruxas contra comunistas nos anos 1950