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Filho de Kadafi avisa que militares estão chegando a Benghazi

Todos os dias, o estudante Omar Ali, de 21 anos, pega seu rifle de assalto e passa sete horas aprendendo a atirar. O gesto é repetido por vários outros homens em Benghazi, cidade situada a 1.024km a leste de Trípoli e considerada o quartel-general da oposição na Líbia. Apesar do ritual, os moradores acreditam que não terão dificuldades em derrotar as forças do ditador Muamar Kadafi. ;Os militares não podem nos atacar. Podemos vencê-los;, disse ao Correio, por telefone. ;Eu morreria por meu país;, admitiu. O comerciante Oufi Omar, de 40 anos, também esbanja otimismo. ;Os revolucionários têm muitas armas. Podemos expulsar os homens de Kadafi, que estão a 300km daqui;, afirmou à reportagem. Benghazi voltou ontem a ser o centro das atenções do levante líbio, depois que Ras Lanuf ; polo petrolífero e outro reduto da insurgência ; foi alvo de foguetes Katiusha, mísseis e obsuses de morteiro. ;Eu envio uma mensagem a nossos irmãos e amigos no leste, que estão nos enviando pedidos diários de ajuda e de resgate: Estamos chegando;, anunciou Saif Al-Islam, filho de Kadafi. ;A vitória está à vista, a vitória é próxima. Eu juro, perante Deus, que venceremos;, disse. ;Chegou a hora da libertação. Chegou a hora da ação. Estamos nos mexendo agora.; Mourad Hemayma, diplomata que desertou do regime de Muamar Kadafi e tornou-se porta-voz do opositor Conselho Nacional Transitório (CNT) (em inglês) Omar Ali, estudante de Benghazi, conta como o povo se prepara para a guerra contra a forças de Kadafi (em inglês) A televisão estatal líbia anunciou a tomada de Ras Lanuf e antecipou que Benghazi será o próximo alvo. ;A cidade foi libertada dos grupos armados e em todas as instituições foram içadas as bandeiras verdes;, explicou à emissora uma fonte do regime. Durante coletiva de imprensa em Trípoli, o vice-chanceler Jaled Kaaim confirmou que ;Ras Lanuf foi totalmente limpa, assim como a refinaria e a indústria petroquímica;. Opositores denunciaram que forças pró-Kadafi atacaram uma residência e uma área próxima ao hospital da cidade, forçando a fuga de médicos e de pacientes. Pelo menos quatro pessoas morreram nos bombardeios. Omar Ali desdenha da ameaça de Saif Al-Islam. ;Não acreditamos nele. Está blefando e não fará nada;, comentou. O aviso do segundo filho de Kadafi seguiu-se à decisão da França de tornar-se o primeiro país a reconhecer o opositor Conselho Nacional de Transição (CNT), sediado em Benghazi, como o único representante legítimo do povo líbio. ;Com base nesse reconhecimento, vamos abrir uma representação diplomática, nossa embaixada em Paris, e um embaixador da França será enviado a Benghazi;, revelou Ali Issawi, emissário do CNT, após se reunir com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, em Paris. A agência oficial de notícias líbia Jana anunciou o revide de Kadafi. Citando uma fonte do Ministério das Relações Exteriores, informou que Trípoli pretende romper relações diplomáticas com Paris. ;Um Estado como a França não pode cometer esta estupidez e reconhecer pessoas que não se representam a si mesmas;, alertou. Frente diplomática Outras nações se apressavam em anunciar medidas para tentar conter a crise política. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, viajará ao Egito e à Tunísia, na próxima semana, e se reunirá com representantes da oposição líbia. Em carta à União Europeia (UE), Sarkozy e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, consideraram ;extremamente inaceitável; o ;uso deliberado; de força militar contra a população civil e defenderam o colapso do regime. ;Para impedir mais sofrimento do povo líbio, Muamar Kadafi e sua ;panelinha; devem sair;, afirmaram os líderes. A Alemanha se uniu em defesa do CNT, apesar de não ter expressado um reconhecimento formal. ;Estamos de acordo em dizer que Kadafi está desacreditado, que deve deixar o poder. Devemos dialogar com os novos representantes líbios;, disse o chanceler francês, Alain Juppe, após conversar com o colega alemão, Guido Westerwelle. Em Bruxelas, ministros da Defesa de países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) começaram ontem dois dias de intensas reuniões e anunciaram o envio de navios ao Mar Mediterrâneo para controlar o embargo de armas ao regime de Kadafi. Segundo o secretário-geral Anders Fogh Rasmussen, a aliança militar está ;unida e pronta para atuar na Líbia;. Ele admitiu o estudo de ;ações adicionais; para colocar em marcha uma zona de exclusão aérea no país. No entanto, deixou claro que, para tanto, é necessária a autorização da ONU. Rasmussen preferiu não comentar a informação de que Sarkozy vai propor à UE ;ataques seletivos; na Líbia. O filho de Kadafi adotou o tom desafiador do pai e ameaçou a Otan, após dar duas semanas para os opositores negociarem uma rendição. ;Jamais desistiremos. Esse é nosso país. (...) O povo líbio nunca irá abrir as portas para a Otan;, alertou Saif Al-Islam. ;A Líbia não é um pedaço de bolo.; EUA rompem com embaixada Os Estados Unidos decidiram suspender as ligações com a Embaixada da Líbia em Washington e aguardam o fechamento do local, anunciou ontem a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. ;Estamos a ponto de suspender nossas relações com a atual embaixada líbia, pelo que esperamos que interrompam a seu funcionamento;, declarou a chefe da diplomacia dos EUA, durante audiência no Congresso. Washington retirou todos os seus diplomatas e fechou a representação em Trípoli após o início da revolta, em meados de fevereiro.