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Japão tenta controlar acidente nuclear e evitar que tragédia se amplie

Paloma Oliveto
postado em 13/03/2011 08:15
Os japoneses mal começaram a chorar seus mortos, e a terra voltou a tremer. Às 15h36 (3h36 de Brasília), novo abalo fez uma das estruturas da usina nuclear de Fukushima, a 240km de Tóquio, explodir, elevando o risco de um acidente nuclear sem precedentes na história do país. Até o fechamento desta edição, técnicos tinham dificuldade para resfriar um dos reatores. No fim da noite anterior, um novo terremoto, de magnitude 6,4, balançou o arquipélago. Por enquanto, o governo trabalha com a previsão de 1,7 mil mortos, sendo que 681 vítimas foram confirmadas. Mas esse número pode ultrapassar 10 mil: somente em Minamisanriku, no estado de Miyagi, 9,5 mil moradores estão desaparecidos.

;Hoje (ontem), aproximadamente às 15h36, um grande tremor ocorreu, seguido por um som alto e por fumaça branca nas proximidades da estação nuclear 1. Dois empregados da usina e dois trabalhadores terceirizados que faziam a segurança da planta sofreram ferimentos e foram transportados ao hospital;, informou a Tokyo Eletric Power Company (Tepco), em comunicado publicado em seu site. Pouco tempo depois, a empresa confirmou a morte de um dos feridos. ;Sinceramente, rezamos pelo repouso de sua alma.; Os demais trabalhadores sofreram lesões leves.

As imagens exibidas pela rede de tevê Al Jazeera mostram que, em segundos, o telhado e as paredes da estrutura atingida na usina se desintegraram. Mas, de acordo com a companhia energética, o reator não foi danificado. ;Nenhum impacto radioativo no ambiente externo foi confirmado, mas vamos continuar a monitorar detalhadamente a possibilidade de material radioativo ter sido descarregado;, informou a Tepco. Em uma coletiva de imprensa, Yukio Edano, principal assessor e porta-voz do primeiro-ministro, assegurou que o contêiner que protege o reator não sofreu danos. Ele explicou que a explosão teve como possível causa uma reação química provocada pelo acúmulo de moléculas de hidrogênio e oxigênio.

Mesmo assim, o governo ampliou de 10km para 20km o raio de evacuação, determinando a retirada de 200 mil pessoas das proximidades da usina. As autoridades também começaram a se preparar para distribuir iodina para os moradores, uma substância que protege contra câncer de tireoide no caso de exposição à radioatividade.

O governo japonês informou à Agência Internacional de Energia Atômica que foram realizados 90 testes para verificar a exposição à radioatividade de pessoas que vivem próximas à usina, e três apresentaram sinais positivos, mas em um nível muito baixo. Em um comunicado, a Agência Japonesa de Segurança Nuclear e Industrial confirmou que, entre o material que vazou para o ambiente, constavam césio-137 e iodina-131.

Risco moderado
A intensidade do acidente nuclear foi classificado em 4 ; em Chernobyl (Ucrânia), o acidente de 1986 ganhou classificação 7, a mais alta possível. As comparações com a pior tragédia nuclear da história são inevitáveis, mas especialistas não acreditam que as dimensões serão as mesmas. O reator central da usina da ex-União Soviética explodiu durante um teste de segurança e liberou 400 vezes mais radiação que a bomba atômica de Hiroshima, lançada no Japão no fim da Segunda Guerra. Durante 10 dias, substâncias radioativas circularam na atmosfera.

Especialista em energia limpa, o professor da Universidade de Maryland Nathan E. Hultman disse ao Correio que o nível 4 significa um acidente com consequências locais. ;Ninguém nunca deseja um acidente nuclear, seja ele qualquer;, afirma. ;Consequência local quer dizer que alguma radiação é liberada e pode ter um efeito no local onde ocorreu. Claramente, é melhor ter um nível 4 do que acima, o que implicaria grandes quantidades de radiação dispersas por um raio ainda maior;, explica.

Para a professora da Universidade Federal de Sergipe, Ana Figueiredo Maia, especializada em reatores nucleares, é ;muito improvável; que Chernobyl se repita. ;A estrutura na Ucrânia não era apropriada e não havia políticas de segurança. No momento, não vejo nenhuma razão para comparar o acidente ao que ocorre agora no Japão;, afirma.

O engenheiro Robert Zubrin, Ph.D. em Engenharia Nuclear pela Universidade de Washington e um dos mais proeminentes cientistas dos EUA, é otimista.;O reator foi fechado, então nenhuma energia nuclear está sendo gerada. Dessa forma, não há possibilidade de haver uma explosão nuclear, mesmo se outro tsunami destruir, futuramente, o reator;, diz à reportagem. ;Ainda há um pouco de calor sendo emitido, mas é cerca de 1% do aquecimento produzido pelo reator quando está ligado. A energia vai diminuir até cessar;, completa.

Segundo Zubrin, para conter o aquecimento, é necessário utilizar água e ácido bórico, o que as autoridades japonesas já estão fazendo. ;Se essas medidas continuarem, não será lançada uma quantidade significativa de material radioativo;, diz. ;O principal perigo para as pessoas agora vem do pânico que pode afetar os moradores da área. É essencial que não se espalhem rumores ou exageros que possam levar ao desespero;, acredita.

Uso recomendado
Medicamentos de iodeto de potássio, conhecidos como pílula antirradiação, são considerados eficazes para combater câncer de tireoide causado por iodo radioativo espalhados por vazamentos nucleares. A Agência Internacional de Energia Atômica recomenda o uso como prática amplamente aceita. Após os atentados de 11 de setembro, o governo americano discute a distribuição para proteger a população contra ataques terroristas, mas resiste à ideia por medo de comprometer a confiança da população na segurança das plantas nucleares.

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