postado em 13/03/2011 09:11
Abrigados há décadas em um país considerado de natureza tranquila, sem terremotos ou tsunamis, japoneses e seus descendentes que moram no Brasil acompanham o desenrolar da situação da terra de origem pela televisão a cabo, sobretudo por programas estatais que mostram 24 horas por dia, na língua deles e em fortes imagens, as cenas do desastre. Em Vargem Bonita, bairro próximo ao Park Way, vive o maior reduto nipônico de Brasília, com cerca de 40 famílias ; praticamente todas com parentes que ainda residem no Japão.;A gente não sabe o que falar para as famílias, nem o que pensar. É complicado;, desabafa o vice-presidente da Associação Cultural Nipo-Brasileira de Vargem Bonita, Shoichi Sumida. Segundo ele, os parentes dos agora moradores do Distrito Federal vivem em regiões mais ao sul do Japão, menos afetadas. Ainda assim, o clima no bairro é de insegurança. ;Todo mundo está preocupado;, relata. ;Mas a gente não tem muito o que fazer, a não ser pensar positivo. Vai ficar tudo bem.;
Andando pela região, é fácil encontrar japoneses ; que por aqui trabalham principalmente com agricultura ;, mas alguns, aparentemente temerosos, preferem não comentar a tragédia. ;A gente já morou lá, poderia estar acontecendo com a gente também. É muito triste;, diz Ângela Iwakawa, 30 anos, que é descendente de japoneses e trabalha em uma lanchonete da região. O contato com a tia, que vive em Aichi-Ken, foi possível por meio da internet. ;Ela está bem assustada, disse que não consegue dormir há 24 horas.;
O aposentado Kiyohide Uema, 77 anos, também ficou aliviado ao se comunicar com a cunhada, moradora de Okinawa. ;Foi uma coisa terrível, arrasou com o Japão;, lamentou, com a voz embargada. ;A gente assiste a tudo na televisão e fica apavorado.;
Os noticiários japoneses também são companhia constante do casal Nakashima. Tadayuki, 68 anos, e a esposa, Miyoko, 63, ficam horrorizados com as imagens exibidas. ;É muito triste;, limita-se a dizer Miyoko, em um português pronunciado com esforço, enquanto o marido tenta traduzir as informações da tevê. Tadayuki chegou ao Brasil em 1957, então com 15 anos. De Belém veio para Brasília pedindo carona a caminhoneiros. Na capital, conheceu Miyoko, também japonesa. Ela morou em Okinawa até 1962, não tem mais familiares por lá, mas sente pena dos moradores do país. ;No Japão, a cultura é de muita união e muito estudo. Por isso, é um povo forte;, opina.
Susto
A tentativa de fazer contato com familiares no Japão nem sempre dá certo devido às condições atuais do país, como falta de energia e telefonia. ;Minha filha estuda em Yokohama. Fiquei muito assustada porque tentei ligar para ela no telefone fixo e não consegui, dava fora do ar. Mas quando ela me ligou, eu me tranquilizei;, conta a professora aposentada Shingeko Iha, 62.
A filha, que é brasileira e mora no Japão desde 2007, estava tendo aula no quinto andar. ;A professora tentou manter a calma por causa dos alunos. Eles tiveram de descer os degraus, já que o elevador não estava funcionando. Minha filha disse que ficou muito assustada e que nunca tinha sentido um terremoto tão forte;, narra a mãe.
Shingeko chegou a pedir o retorno da filha ao Brasil, ouvindo um não do outro lado da linha, de quem estava disposta a terminar os estudos. ;O coração fica muito apertado;, confessa. ;Mas o japonês é muito batalhador, tem força de querer vencer. Acho que isso é do povo japonês mesmo, essa garra de querer recuperar tudo que perdeu;, orgulha-se a aposentada.