postado em 14/03/2011 08:49
O Japão vive o seu pior momento desde a Segunda Guerra Mundial, declarou ontem o primeiro ministro Naoto Kan, dois dias após o maior terremoto da história do país. Ao informar que a situação continua muito grave na usina nuclear de Fukushima 1, ele avisou que haverá grandes cortes programados de eletricidade. ;Considero a situação atual, de certa forma, como a mais grave crise que enfrentamos nos últimos 65 anos;, resumiu Kan.A tragédia que acarretou a paralisação de várias usinas nucleares comprometerá o fornecimento de energia nas próximas semanas, além de implicar em novas importações de gás, carvão e petróleo. A Tokyo Electric Power Company (Tepco) anunciou ontem que vai iniciar hoje racionamento de energia elétrica em consequência dos danos causados pelo sismo de sexta-feira, seguido de tsunami. As interrupções devem durar até o fim de abril, conforme plano aprovado pelo primeiro ministro.
As províncias de Tóquio, Chiba, Gunma, Ibaraki, Kanagawa, Tochigi, Saitama, Yamanashi e parte de Shizuoka serão afetadas, segundo a companhia energética. Ela ressaltou que a região central da capital japonesa será poupada. O ministro da Indústria, Banri Kaieda, acrescentou que as regiões leste e nordeste do país devem se preparar para enfrentar ;situação anormal; de falta de energia.
Conforme cronograma elaborado pelo governo, os cortes de energia obedecerão escala de três horas por dia nas cidades da região nordeste, a mais atingida pelo terremoto. As pessoas serão comunicadas antecipadamente sobre os blecautes.
Tetsuhiro Hosono, chefe da Agência de Recursos Nacionais e Energia, calcula que a situação pode durar ;muitas semanas; e aproveitou para conclamar as grandes empresas a economizar energia. Ele afirmou que governo e fornecedoras se esforçarão para diminuir o impacto do racionamento na vida das pessoas.
Contas amargas
O governo japonês criou três comissões para lidar com a crise. A primeira vai estudar os problemas energéticos, como a necessidade de contenção das usinas nucleares que ainda apresentam riscos de explosão. A segunda tratará do ordenamento dos trabalhos de socorro às vítimas a serem desenvolvidos por voluntários. A última vai estudar a situação da economia e as medidas que serão tomadas para minimizar ao máximo as consequências da tragédia para a indústria.
Apesar disso, o governo já antecipou que o desastre natural terá impacto ;considerável; na economia do país. Com as informações sobre o tamanho dos danos ficando mais claras, estima-se mais de 3,4 mil edifícios destruídos. Ao menos 5,6 milhões de lares estão sem eletricidade, sem considerar as interrupções anunciadas.
Depois do mercado apostar no gasto de US$ 50 bilhões pelas seguradoras em razão dos prejuízos ao Japão, a empresa norte-americana especializada na avaliação de riscos AIR Worldwide apresentou ontem sua estimativa inicial, de até US$ 34,6 bilhões. Para seus técnicos, os danos a propriedades privadas somam, no mínimo, US$ 14,5 bilhões. A ressalva é que muitos dados ainda estão indisponíveis, o que pode elevar prognósticos.
A seguradora norte-americana Eqecat ponderou, por sua vez, que os prejuízos econômicos decorrentes do terremoto continuam subindo. Por enquanto, seus estudos apontam perdas totais acima de US$ 100 bilhões. Apenas a conta dos lares superará US$ 20 bilhões, afirmou seu relatório.
O dano registrado em instalações comerciais também é grande e fábricas de empresas como Honda, Toyota, Nissan e Sony não estão operando. Esse prejuízo pode ficar acima de US$ 20 bilhões. As infraestruturas danificadas somam pelo menos US$ 30 bilhões, ao que é preciso somar os prejuízos de US$ 10 bilhões por perdas em instalações de portos e de navios.
Apoio ao mercado
O Banco Central (BC) do Japão prevê realizar hoje uma injeção "em massa" de capital nos mercados, para ajudá-los a estabilizar-se depois da catástrofe. A autoridade monetária promete acompanhar atentamente a situação e fazer todo o possível para oferecer liquidez e garantir a estabilidade. O Comitê de Política Monetária do BC japonês também analisará as repercussões da tragédia na economia. As bolsa de Tóquio e Osaka e os demais mercados financeiros vão abrir normalmente, mas o governo promete ficar atento a possíveis tentativas de especulação.