Agência France-Presse
postado em 14/03/2011 19:20
Brasil, Argentina e México, os países onde operam as seis usinas nucleares existentes na América Latina, tentavam nesta segunda-feira (14/3) tranquilizar seus cidadãos ante à situação crítica nuclear do Japão após o terremoto de sexta-feira.
A emergência nuclear na central de Fukushima, com três explosões em reatores que enfrentam dificuldades de resfriamento, apenas 250 km a nordeste de Tóquio, a maior megalópole do mundo, com 35 milhões de habitantes, gerou uma onda de medo que deu a volta ao mundo.
Para Leonan dos Santos, assistente da Presidência da Eletronuclear, empresa brasileira responsável pela gestão das usinas nucleares de Angra I e II é muito improvável que esses reatores sofram problemas similares aos de Fukushima, porque utilizam uma tecnologia muito diferente.
No caso de Fukushima, houve uma falha no sistema que bombeia água para esfriar o reator, disse, e isso não seria necessário nas usinas de Angra mesmo em uma emergência. Além disso, destacou que as usinas brasileiras foram projetadas para suportar terremotos de até 7 graus nas escala de Richter.
Mauricio Ehrlich, geotécnico da Universidade de Rio de Janeiro, lembrou à imprensa que "as chances de haver um terremoto significativo são muito pequenas" na região de Angra dos Reis, 150 km a sudeste do Rio de Janeiro e a 397 km de São Paulo, as duas maiores cidades brasileiras.
A Eletronuclear emitiu uma nota oficial indicando que são virtualmente inexistentes as possibilidades de o litoral, onde estão localizadas as usinas, seja arrasado por um tsunami proveniente do Oceano Atlântico.
"A região sudeste do litoral brasileiro, onde estão as usinas de Angra, está no centro da placa tectônica Sul-Americana, distante da placa Africana. Por isso, não existem as condições necessárias para que tsunamis sejam geradas" nessa área, afirmou uma porta-voz da Eletronuclear à AFP.
No entanto, alertas foram lançados por autoridades políticas. O presidente do Senado de Brasil, José Sarney, sugeriu nesta segunda-feira que será preciso reavaliar o papel das usinas nucleares na matriz energética de cada país.
Com relação às usinas de Angra, a preocupação de especialistas não se concentra tanto nos reatores em si, e sim nas dificuldades de evacuar cidades próximas em uma emergência, já que apenas uma estrada existe na região e está sempre exposta a deslizamentos de terra.
O Brasil iniciou em 2010 a construção de uma terceira usina, Angra III.
Na Argentina, o gerente de Controle de reatores da Autoridade Regulatória Nuclear, Rubén Navarro, disse à AFP que as usinas de Atucha e Embalse têm "diferenças fundamentais" em relação às do Japão, tanto em sua tecnologia como em sua localização.
Distantes do mar e da zona de junção de placas tectônicas, as usinas de Atucha 1 e Embalse (e em breve Atucha 2) não correm o risco de serem afetadas por terremotos ou tsunamis, e possuem um desenho diferente dos modelos construídos no Japão.
"As usinas argentinas têm um circuito de refrigeração entre o núcleo e o setor externo. As japonesas não têm", disse Navarro, para quem a situação no Japão não deverá motivar medidas extraordinárias nas usinas argentinas.
Já Epifanio Ruiz, especialista em Ciências Nucleares da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), afirmou que a central nuclear de Laguna Verde (composta por duas usinas similares) "conta com os sistemas de segurança necessários para uma nucleoelétrica, que são avaliados a cada ano" conforme os acordos com a AIEA.
A central de Laguna Verde está localizada no Golfo do México, a 490 km da Cidade do México, cidade mais populosa da América Latina, com 23 milhões de habitantes e a 70 km da cidade de Veracruz.
"Não há falhas geológicas nas proximidades de Laguna Verde, o que torna improvável a ocorrência de um maremoto. No caso de furacões, os reatores são desligados gradualmente", explicou Ruiz à AFP, acrescentando que o alerta no Japão serve para melhorar as medidas de segurança.
As usinas de Laguna Verde são alvos de críticas por terem sido instaladas em uma região exposta à ação de furacões. No ano passado, o furacão Karl tocou a terra a apenas sete quilômetros das usinas e causou a desativação dos reatores.