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Água do reator 4 evapora e radiação atinge níveis "extremamente altos"

postado em 17/03/2011 08:30
Com roupas especiais, técnicos usam contadores Geiger para medir o nível de radioatividade em moradores da cidade de Nihonmatsu, na província de FukushimaA radiação emitida pelo reator 4 da usina nuclear de Fukushima Daiichi atingiu ;níveis letais;, depois que a água da piscina de combustíveis reciclados evaporou. Um comunicado da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) revela que a temperatura registrada no reservatório foi de 84 graus Celsius, na última terça-feira. O alto risco de exposição à radioatividade impediu a medição ontem. ;A temperatura se mantém abaixo de 25 graus Celsius em condições normais de funcionamento;, explica a nota. Até o fechamento desta edição, os núcleos dos reatores 1, 2 e 3 corriam alto risco de fusão.

;A situação é muito grave;, admitiu pela primeira vez o japonês Yukiya Amano, diretor-geral da AIEA. ;Eu planejo viajar para o Japão o mais rápido possível, talvez amanhã (hoje), para ver a situação e saber como podemos ajudar;, acrescentou. Ele confirmou que os núcleos de três dos seis reatores estão danificados. Por sua vez, em uma surpreendente aparição em rede nacional de TV, o recluso imperador Akihito, de 77 anos, classificou o incidente em Fukushima Daichii de ;imprevisível; e reconheceu que a escala da crise não tem precedentes. Às 22h de ontem, a emissora de tevê NHK mostrou fumaça saindo dos reatores 2, 3 e 4.

[SAIBAMAIS]De acordo com a húngara Alinka Lépine-Szily, diretora do Laboratório Aberto de Física Nuclear do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), a real dimensão da crise em Fukushima é desconhecida pelos próprios técnicos japoneses. ;Quando a radiação fica alta demais, os operadores precisam se afastar e ficam impossibilitados de saber o que ocorre dentro do reator;, afirmou, em entrevista ao Correio. ;Certamente, as autoridades japonesas pretendem evitar o pânico.; Mas pode ser tarde demais. O embaixador dos Estados Unidos em Tóquio, John Roos, determinou que os cidadãos norte-americanos mantenham um perímetro de segurança de 80km de Fukushima. Um dia depois de o comissário de energia da União Europeia alertar para um ;apocalipse;, Greg Jaczko ; chefe da Comissão Reguladora Nuclear dos EUA ; disse que as tentativas de usar a água do mar para resfriar os reatores têm sido em vão. ;Acreditamos que houve uma explosão de hidrogênio no reator 4, graças à exposição de combustível nuclear na piscina;, admitiu. O Ministério do Interior da França pediu à equipe de Defesa Civil enviada ao Japão que abandone a cidade de Senai, em razão da ;situação nuclear e radiológica atual;.

Vazamento

Por e-mail, o físico nuclear norte-americano Kirby Kemper explicou o funcionamento das piscinas nos reatores. ;À medida que as varetas de combustível nuclear se gastam, elas são removidas do núcleo do reator e colocadas em grandes reservatórios, para que sua radioatividade decaia;, afirmou Kemper, professor da Florida State University. Segundo ele, por alguma razão desconhecida, a água da piscina do reator 4 vazou. ;As varetas se aqueceram, apesar de sofrerem perda de radiação. Elas podem esquentar mais e derramar radioatividade na piscina, liberando o vapor;, alertou. As varetas de combustível são pastilhas de óxido de urânio empilhadas num tubo de liga de zircônio.

Na manhã de hoje (hora local), a Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da usina nuclear de Fukushima Daiichi, mantinha 180 técnicos no local, empenhados em tentar restaurar o fornecimento de energia e reativar as bombas d;água do sistema de resfriamento dos reatores. Um helicóptero da Marinha japonesa despejou um grande volume de água sobre um dos reatores. A operação seria repetida por outros aparelhos. Enquanto isso, aeronaves das Forças de Autodefesa do Japão começaram a monitorar os níveis de radiação sobre a central. Um caminhão-tanque também tenta reduzir a temperatura das varetas de combustível. Se as operações não evitarem a fusão, a radioatividade colocará em risco a vida dos funcionários. A crise teve origem no corte de energia após o tremor e o tsunami de sexta-feira. As ondas paralisaram os geradores de emergência e derrubaram o sistema de refrigeração. De acordo com o último balanço, 4.314 pessoas morreram e 8.606 estão desaparecidas.

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