Trípoli - As autoridades líbias anunciaram nesta quinta-feira (17/3) uma ofensiva "a partir desta noite" contra Benghazi, bastião dos insurgentes no leste do país, e ameaçam atacar o tráfego aéreo e marítimo civil e militar no Mediterrâneo, caso haja intervenção militar estrangeira contra o país.
Em Nova York, o Conselho de Segurança deve votar às 19h, horário de Brasília, um projeto de resolução estipulando que os Estados membros da ONU poderão "tomar qualquer medida necessária para proteger os civis na Líbia", principalmente a implementação de uma zona de exclusão aérea.
Intimidação
"A decisão foi tomada. Preparem-se, nós chegaremos a partir desta noite", declarou o líder líbio Muamar Kadafi nesta quinta-feira em uma emissão sonora dirigida aos habitantes de Benghazi e retransmitida pela televisão líbia. "É preciso terminar com essa farsa".
"Aquele que entregar suas arma se fugir não será perturbado. Nós não o perseguiremos", garantiu.
Benghazi, segunda maior cidade do país situada a mil quilômetros a leste de Trípoli, é a sede do Conselho Nacional de Transição, instância criada pelos insurgentes.
Mais cedo, um porta-voz do Ministério líbio da Defesa citado pela agência oficial Jana havia informado que qualquer operação militar estrangeira iria "expor todo o tráfego aéreo e marítimo no Mediterrâneo ao perigo".
"Qualquer elemento móvel civil ou militar será alvo de um contra-ataque líbio", acrescentou.
Exército
O exército havia anunciado mais cedo a paralisação de suas "operações militares contra os grupos terroristas armados a partir de domingo 00H00 (19H00, horário de Brasília) para dar uma oportunidade (aos insurgentes) de deixar as armas e se beneficiar de uma anistia geral", segundo a agência.
No território, as forças leais ao coronel Kadafi continuam suas conquistas no leste nesses últimos dias.
Nesta quinta-feira, as tropas tentaram bombardear postos da rebelião em Benghazi, informou os insurgentes que afirmam ter abatido dois aviões. Não foi possível de imediato confirmar essas informações de fonte independente.
No oeste, rebeldes se preparam nesta quinta-feira para receber uma ofensiva das forças governamentais em Zenten (145 km ao sudoeste de Trípoli), de acordo com uma testemunha.
"Segundo os combatentes, as forças leais a Kadafi estão tentando cercar Zenten. Há movimento de tropas ao norte e ao sudoeste. Eles esperam um grande ataque na cidade", contou a fonte.
Capital
Enquanto isso, a capital Trípoli se esforça para retomar à normalidade após a terrível repressão às manifestações de fevereiro. As crianças voltaram às escolas e lojas, cafés e bancos estão abertos novamente.
Agora que a revolta se transformou em guerra civil, matando centenas de pessoas, o projeto de resolução da ONU "autoriza os Estados membros (...) a tomar qualquer medida necessária (...) para proteger os civis e as zonas povoadas das ameaças de ataques" feitas pelas forças do coronel Muamar Kadafi.
O projeto "visa estabelecer uma proibição para qualquer voo no espaço aéreo" da Líbia "de maneira a ajudar a proteger os civis".
Intervenção
A expressão "qualquer medida necessária" abre caminho a ataques militares contra alvos líbios, ainda que o texto exclua a ocupação do país.
França, Grã-Bretanha e Estados Unidos pressionaram os outros países membros a adotar esse texto, mas Rússia e China, que possuem direito de veto, podem se opor.
Ataques aéreos podem ocorrer na noite desta quinta-feira para sexta-feira em postos do exército líbio, assim que for obtido o sinal verde da ONU ao recurso da força, informaram fontes próximas ao caso e diplomatas franceses.