Paloma Oliveto
postado em 18/03/2011 09:28
À medida que aumentam os riscos de uma catástrofe nuclear, japoneses e estrangeiros que estão no país começam a abandonar as proximidades de Tóquio e não são poucos os que veem no aeroporto internacional da capital a melhor saída. A corrida dos brasileiros contra a ameaça radioativa levou o Consulado-geral do país a abrir as portas no sábado (hoje, no Japão) e na segunda-feira, somente para a emissão e renovação de passaportes, além do registro de nascimento das crianças brasileiras. O consulado também anunciou a segunda missão de busca na província de Miyagi, passando por Sendai e Onagawa. De acordo com um comunicado de imprensa do órgão, 14 brasileiros ainda estão no local.;Em Onagawa, um dos veículos do consulado visitará o abrigo montado no ginásio da vila, onde se encontram sete brasileiros. A chegada ao ginásio de Onagawa está prevista para as 8h (de sábado). Após a passagem por Onagawa, os veículos do comboio seguirão viagem juntos para Kamisato, na província de Saitama, onde os brasileiros retirados das áreas atingidas poderão contar com alojamento temporário, se precisarem;, informou o Consulado-geral do Brasil em Tóquio. Vinte e seis brasileiros que viviam na região já foram resgatados pelo órgão.
O paraense Mitsuru Hirashita, 39 anos, vive na cidade de Isesaki, a cerca de 250km da usina nuclear de Fukushima, há duas décadas e considera a possibilidade de voltar ao Brasil. ;Depois de 11 de março, a terra aqui não parou de tremer. Sentimos os tremores várias vezes ao dia, é algo que já se tornou até rotina;, conta. ;Muitos estrangeiros estão abandonando o país com medo dos terremotos e, principalmente da radiação da usina, que pode vir a piorar;, relata. ;Moro no Japão desde 1991 e esse foi o primeiro terremoto mais forte, depois de Kobe, que sentimos aqui. Depois dessa, eu e minha família pensamos seriamente em retornar ao Brasil, porém ainda não decidimos.;
Hirashita conta que, hoje, a população vive atenta ao noticiário e enfrenta dificuldades para executar tarefas que, antes, eram corriqueiras. ;Temos racionamento de energia elétrica até duas vezes ao dia, dependendo da necessidade, e cada blecaute dura cerca de três horas. Também falta combustível nos postos e, nos supermercados, cada vez mais as prateleiras ficam vazias, porque as pessoas ficam estocando para se prevenir de uma possível falta de mantimentos e também para evitar ficar saindo de suas casas;, relata. ;Procuramos não ficar expostos ao tempo e usamos máscaras ao sair de casa. Devido ao racionamento de energia elétrica, o trabalho em quase todos os setores diminuiu em geral para meio período.;
Sem pânico
Em Tóquio, a falta de alimentos, as quedas de energia e a precariedade no funcionamento do transporte público também preocupam os brasileiros. O professor Osvaldo Nascimento, 41 anos ; oito deles na capital japonesa ;, diz que a rotina dos moradores está bastante afetada. ;Dormimos pouco à noite e, durante o dia, tentamos levar uma vida normal, mas é quase que impossível manter o ritmo que tínhamos antes do dia 11. O que realmente nos preocupa aqui em Tóquio, neste momento, é o desabastecimento e os constantes fortes tremores que estão acontecendo;, diz.
Entre os problemas enfrentados, estão o desabastecimento dos supermercados e a falta de transporte. ;Os trens estão funcionando em esquema de emergência, algumas linhas foram desativadas temporariamente e as linhas mais importantes funcionam em horários irregulares. Não há racionamento de alimentos, e sim um desabastecimento, já que toda a população após o terremoto resolveu estocar alimentos;, diz o professor. ;A maioria dos postos de gasolina já estão fechados e os poucos que ainda têm combustível para vender estão com filas intermináveis.;
Apesar das alterações na rotina, Osvaldo faz questão de destacar que não acredita em um desastre nuclear. ;Acho importante repetir isso: não há, por parte de nossa família ou pela maioria das pessoas que conheço e convivo, nenhuma preocupação com relação à radiação aqui onde moramos. A contaminação por Fukushima aqui em Tóquio é pura especulação. Não há nenhum motivo para ;pânico radioativo; aqui em Tóquio. Estamos calmos, muito tranquilos e 100% seguros por essas bandas;, garante.
Vivendo em Kakamigahara, a 500km da capital japonesa, desde 2003, a paulistana Ritsuko Hirano, 39 anos, lamenta que os compatriotas que moram no país decidam abandoná-lo. ;Os estrangeiros estão abarrotando os balcões do consulado, pedindo que o Brasil mande um avião para transportá-los. Acho isso muito deprimente;, diz. ;Sei que algumas pessoas estão desesperadas, mas agora é que o país vai precisar de todos, para reconstruir o Japão. Aqui, tivemos a chance de uma vida melhor e agora não podemos abandonar o país;, acredita.
Ontem, os cidadãos americanos começaram a deixar o país com a ajuda da Embaixada dos Estados Unidos. De acordo com o Departamento de Estado americano, um avião retirou 100 pessoas, com destino a Taiwan. O porta-voz do Departamento de Estado disse que os passageiros eram, na maioria, familiares dos diplomatas americanos. Segundo Patrick Kennedy, hoje um novo voo sairá do país. O porta-voz também informou que 14 ônibus foram enviados de Tóquio para Fukushima, província onde se localiza a usina nuclear cujos reatores foram afetados pelo terremoto. O Pentágono também autorizou familiares de militares americanos que trabalham na Ilha de Honshu a deixar o Japão.
Colaborou Tatiana Sabadini
CONDOLÊNCIAS DE OBAMA
O presidente Barack Obama foi ontem à Embaixada do Japão nos Estados Unidos, em Washington, para assinar o livro de condolências, seis dias após o terremoto seguido de tsunami no arquipélago. A comitiva chegou pouco antes das 14h (hora local) à representação diplomática nipônica. O deslocamento não fazia parte da agenda oficial da presidência americana.