postado em 18/03/2011 10:26
Depois de afirmar ; no começo da semana ; que as falhas registradas nas usinas nucleares japonesas não teriam chance de acontecer no Brasil, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou que o governo federal fará uma avaliação das condições de segurança em Angra 1 e 2. Segundo Lobão, a análise será feita pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), em parceria com a estatal Eletronuclear e com técnicos do governo. ;Vários países estão fazendo isso e nós também vamos. Não queremos ficar na contramão de nada. Temos consciência de que o episódio do Japão foi grave e não queremos jamais que isso se repita;, afirmou, depois de reunião no Ministério da Fazenda.Atualmente, somente as duas usinas nucleares funcionam no país, e Angra 3 já está em construção. O ministro evitou responder diretamente se a crise nuclear japonesa afetaria os planos de expansão dessa fonte de energia no país (o programa nuclear brasileiro previa a construção de quatro usinas até 2030). Apenas defendeu que, no momento, as análises têm prioridade. ;Vamos ter cuidado especial com a política nuclear. Nosso objetivo (com a avaliação) é testar a segurança, mas isso não significa que é preciso parar Angra 3.;
Lobão ainda assegurou que os produtores de urânio no país tampouco serão prejudicados, e o governo continuará garantindo a produção para quem encontrar o elemento químico.
Diferenças
No mesmo dia em que o ministro anunciou os futuros testes, a Eletronuclear ; subsidiária da Eletrobras responsável por construir e operar as usinas nucleares do país ; divulgou comunicado para esclarecer as diferenças entre Angra 1 e 2 e os reatores japoneses. A tecnologia usada em Angra e na maior parte das 440 usinas nucleares em operação no mundo teria, segundo a instituição, algumas vantagens no caso de acidentes como os observados no país asiático.
O documento explica: ;65% (das usinas em todo o mundo) contam com reatores a água pressurizada (PWR), o mesmo modelo de Angra 1 e 2;. Aproximadamente 25% são reatores a água fervente (BWR), como os da central de Fukushima, no Japão. Os 10% restantes são de usinas movidas a tecnologias que estão se tornando obsoletas.
Nas usinas do tipo PWR, no caso de um acidente com perda total da alimentação elétrica, como o ocorrido em Fukushima, os operadores teriam mais tempo para reestabelecer a energia do que numa BWR. Isso porque elas contam com equipamentos que possibilitam o resfriamento do reator ocorrer por circulação natural de água até o restabelecimento de energia, sem a necessidade de utilizar bombas acionadas por eletricidade.
Nas BWR, por sua vez, ;um corte no fornecimento de energia interrompe imediatamente o resfriamento, como aconteceu na usina de Fukushima Daiichi;. No Japão, 50% das usinas são do tipo PWR e a outra metade é BWR, de acordo com a Eletronuclear ; e, na região afetada, só havia usinas BWR em operação.
Capacidade
Angra 1 e Angra 2, juntas, têm capacidade instalada de 2 mil megawatts. Mais 1.080 megawatts serão agregados ao sistema quando Angra 3 for inaugurada, em 2015.
Reconstrução exigirá ferro
A tragédia japonesa não impulsionará só uma avaliação nas usinas nucleares brasileiras: também poderá provocar uma alta no preço do minério de ferro do mercado internacional. Na avaliação do ministro das Minas e Energia, isso se deve ao aumento que haverá na demanda quando começarem os esforços de reconstrução do país. Por ora, as vendas do produto para o Japão estão inalteradas, de acordo com dados da Vale, maior mineradora do Brasil. A empresa tem 56 navios aguardando carregamentos em portos ; nove rumo ao Japão. Em 2010, os embarques de minério de ferro e pelotas da Vale para o Japão somaram 30,8 milhões de toneladas, equivalentes a 10,5% do total vendido pela companhia.