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Aristide retorna ao Haiti às vésperas do segundo turno presidencial

Agência France-Presse
postado em 18/03/2011 15:21
Porto Príncipe - Jean-Bertrand Aristide, o primeiro presidente do Haiti democraticamente eleito que foi exilado duas vezes, retornou a seu país nesta sexta-feira (18/3)em uma ação que ameaça perturbar a já frágil eleição presidencial.

O ex-presidente, sorrindo e usando um terno azul escuro, saiu de um jatinho privado com sua mulher e suas duas filhas, que choraram quando seu pai participou de uma cerimônia de boas-vindas organizada pelo chefe de gabinete do presidente René Preval, junto a chanceleres e apoiadores.

Enquanto milhares de apoiadores reuniam-se do lado de fora do aeroporto, Aristide rapidamente ficou sério, avisando em um discurso televisionado realizado alguns minutos depois de sua chegada que as "doenças do Haiti pioraram" desde que ele foi forçado a sair do país, em 2004.

O país, completou, agora "precisa se curvar ao peso de 27 milhões de toneladas de entulho", em uma referência ao terremoto de janeiro de 2010 que matou mais de 220.000 pessoas e destruiu a capital.

Antes de deixar o Haiti com destino à África do Sul, onde passou sete anos em exílio, Aristide prometeu não se envolver na campanha política deste ano, afirmando que só queria promover projetos educacionais para ajudar na recuperação do Haiti.

Mas até sua chegada, o homem de 57 anos gastou pouco tempo interferindo no pleito, criticando as autoridades por retirarem o partido Fanmi Lavalas do segundo turno das eleições que serão realizadas no próximo domingo.

"A exclusão de Fanmi Lavalas é uma exclusão da maioria dos haitianos", afirmou.

O retorno de Aristide, ainda muito popular nas favelas do Haiti, tem o potencial de balançar a corrida apertada, particularmente se ele anunciar apoio a um dos dois candidatos.

Ele ignorou o pedido de Washington para que retornasse depois da votação, como forma de garantir alguma estabilidade ao país caribenho que ainda tenta se recuperar do terremoto e das turbulências políticas.

Autoridades americanas alertaram que o retorno do ex-presidente poderia apenas adicionar mais incerteza ao país mais pobre do Hemisfério Ocidental, e o presidente americano, Barack Obama, declarou que o "timing" era "desestabilizador".

No pleito de domingo, o cantor popular Michel Martelly concorre contra a ex-primeira-dama Mirlande Manigat, no segundo turno das eleições presidenciais e legislativas marcadas por atos de violência e fraudes.

Manigat, uma acadêmica de 70 anos, recebeu mais votos no primeiro turno, obtendo 20% dos 4,7 milhões de votos.

Martelly, 50, um cantor que mistura apresentações musicais com sátiras políticas, recebeu amplo apoio entre jovens e agora detém uma ligeira liderança nas pesquisas.

Ex-padre com atuação em favelas, Aristide entrou na cena polícia em 1985 para se opor ao autoritarismo do ditador Jean-Claude "Baby Doc" Duvalier.

Aristide mais tarde construiu sua reputação como líder da pobre maioria católica para se tornar o primeiro presidente democraticamente eleito do Haiti.

Ele foi retirado do cargo duas vezes, deixando o país em 2004 - como Duvalier - a bordo do avião da Força Aérea americana e foi acusado de corrupção e violência.

Duvalier, 59, promoveu um retorno surpresa em janeiro após 25 anos de exílio.

Promotores haitianos acusaram Duvalier de corrupção, apropriação indevida de fundos públicos e associação criminosa durante seu mandato de 15 anos, que terminou quando ele foi derrubado por uma revolta em 1986.

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