Tóquio - O Japão prosseguia nesta sexta-feira (18/3) com os esforços para enfrentar a crise humanitária e ameaça nuclear desatada pelo terremoto seguido de tsunami que há uma semana levou o país ao caos.
O primeiro-ministro Naoto Kan afirmou que as ainda são grandes as dificuldades para esfriar os reatores da usina nuclear de Fukushima.
Crise
"Estamos numa situação de crise que põe à prova nosso povo. O Japão s reconstruiu milagrosamente depois da guerra. Com a força de todos, reconstruiremos novamente o país", afirmou Kan em um discurso transmitido pela televisão.
"O superará esta tragédia e se reconstruirá como nação", afirmou ainda.
Kan admitiu que a central de Fukushima continua enfrentando "enormes dificuldades", mas prometeu que o Estado controlará energicamente a situação na zona.
Foi lançada uma corrida contra o relógio para esfriar os reatores de Fukushima, que sofreu graves danos sofridos pelas tragédias naturais que ocorreram há exatamente uma semana no Japão, declarou, por sua vez, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano.
"Trata-se de um acidente gravíssimo", afirmou Amano depois de reunir-se com o primeiro-ministro japonês Naoto Kan para analisar a situação.
Corrida contra o tempo
"É muito importante que a comunidade internacional, incluindo a AIEA, participe nisto de forma conjunta. O esfriamento (dos reatores) é extremadamente importante, creio que se trata de uma corrida contra o relógio", explicou.
Amano anunciou que a AIEA medirá o nível de radioatividade em Tóquio.
Em Viena, um especialista da AIEA disse que a situação na usina pelo menos não pirou significativamente nas últimas 24 horas.
Por outro lado, as 500.000 pessoas que perderam suas casas quando o maremoto devastou o litoral do nordeste do Japão estão sobrevivendo sob duríssimas condições, lutando para encontrar fontes de calor em temperaturas glaciais, e com escasso ou nenhum abastecimento de alimentos.
O número confirmado de mortos no terremoto e tsunami de 11 de março chegou a 6.539, segundo o mais recente balanço oficial. Trata-se da pior catástrofe natural registrada no Japão desde o grande terremoto de Kanto, em 1923, que causou a morte de mais de 142.000 pessoas.
Homenagem
A população japonesa observou, exatamente às 14H46 desta sexta-feira (horas local, madrugada no Brasil), um minuto de silêncio pelas vítimas do terremoto de magnitude 9 que deu início à série de tragédias.
A principal preocupação nacional estava centrada na central Fukushima 1. O temor das radiações desencadeou um êxodo de estrangeiros, sobretudo, depois que Grã-Bretanha, França e outros países aconselharam seus cidadãos a deixar Tóquio.
A Agência de Segurança Nuclear japonesa aumentou nesta sexta-feira de 4 para 5 o nível do acidente nuclear de Fukushima na Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radiológicos (INES, por suas siglas em inglês), que chega a 7. Este último nível foi o alcançado pelo acidente na usina de Chernobyl (Ucrânia) em 1986.
A Autoridade Francesa de Segurança Nuclear considerou que o acidente de Fukushima corresponde a um nível de gravidade 6.
Sem perigo
O Japão indicou que os níveis de radiação dessa usina nuclear, situada 250 km a nordeste da capital, não representa uma ameaça a saúde fora de uma zona de exclusão de 20 km, apesar dos níveis ligeiramente elevados registrados em Tóquio no início desta semana.
O aumento do nível do acidente para 5 indica "um acidente com amplas consequências", de acordo com a INES.
Muitos países transferiram suas embaixadas para fora de Tóquio, e o pânico contagiou outras nações. Nos Estados Unidos, pessoas fizeram fila para comprar pílulas de iodeto de potássio. Nos aeroportos asiáticos, os passageiros procedentes do Japão eram submetidos a exames de radiação.
Está sendo organizada uma grande operação internacional para socorrer as pessoas que perderam suas casas e milhões de habitantes que sofrem com a falta de água, eletricidade, combustível ou alimentos no nordeste do país.
Uma espessa camada de neve cobriu os restos das casas destruídas pelo terremoto e pelo tsunami em cidades e aldeias, reduzindo as esperanças de encontrar sobreviventes em meio aos escombros.
Na usina de Fukushima, os operários mantinham as operações de esfriamento nesta sexta-feira.
Cinco caminhões do Departamento de Bombeiros de Tóquio especialmente equipados lançavam água a cada 20 minutos nesta sexta-feira à meia-noite para tentar controlar os reatores aquecidos e os tanques de armazenamento de combustível, conhecidos como piscinas de contenção, indicou uma fonte oficial.
Nesta sexta-feira à tarde, seis caminhões de Defesa Civil despejaram cerca de 50 toneladas de água do mar em um dos reatores com problemas.
Um membro do Ministério da Defesa disse à AFP que as operações da tarde estavam concentradas no reator 3.
Os caminhões dos bombeiros de Tóquio, incluindo um que pode despejar água de até uma altura de 20 metros, iniciaram as últimas operações por volta das 00h30 locais de sábado (12h30 desta sexta-feira em Brasília).
As autoridades indicaram que repetirão as operações até o meio-dia de sábado.
Se o combustível for exposto ao ar, pode se espalhar ainda mais e emitir níveis perigosos de radioatividade.
Durante o dia, algumas equipes conseguiram chegar a uma linha de energia elétrica que alimenta o setor para tentar acionar novamente as bombas de água necessárias para o esfriamento e evitar uma fusão acidental do núcleo dos reatores.