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Manifestação no Iêmen termina com 46 mortos e estado de emergência

Agência France-Presse
postado em 18/03/2011 17:33
Sanaa - Os episódios mais violentos no Iêmen desde o início dos protestos contra o regime deixaram pelos menos 46 mortos nesta sexta-feira (18/3) em Sanaa, e Washington, que vê no presidente Ali Abdallah Saleh um aliado, condenou os incidentes.

O presidente Saleh, de 68 anos, lamentou as mortes, mas anunciou a instauração do estado de emergência no país e pediu que os manifestantes deixem a Praça da Universidade, no centro de Sanaa, símbolo de sua mobilização.

Em função da situação, o ministro do Turismo, Nabil al-Faqih, anunciou sua demissão em protesto contra o uso injustificado da força.

O presidente americano Barack Obama também exortou presidente Saleh a autorizar a realização das manifestações.

"Condeno firmemente os episódios de violência que foram registrados hoje no Iêmen", declarou Obama em um comunicado, pedindo que "o presidente Saleh mantenha a sua promessa de autorizar as manifestações pacíficas".

A oposição que exige a saída de Saleh, no poder há 32 anos, classificou os incidentes de "massacre".

Segundo fontes médicas, além dos mortos, pelo menos 200 pessoas ficaram feridas quando milhares de manifestantes contrários ao regime foram alvejados por partidários do presidente Saleh.

Os tiros foram disparados de moradias próximas à Praça da Universidade, onde estão sendo realizadas desde 21 de fevereiro manifestações contra o regime, segundo um correspondente da AFP, que viu um adolescente de 14 anos ser atingido com um tiro na cabeça e morrer em seguida.

Os tiros começaram quando os manifestantes tentavam desmantelar uma barricada erguida pelos partidários do regime para bloquear uma das ruas de acesso à Praça da Universidade, e o massacre durou mais de uma hora e meia.

De acordo dom o correspondente da AFP, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes e disparou balas reais.

Manifestantes subiram no alto de um dos edifícios onde estava escondido um atirador e o jogaram do alto da construção, segundo o correspondente.

No hospital de campanha montado na Praça da Universidade, o doutor Wassim al-Qerchi, com as mãos cheias de sangue, explicou à AFP : "Não chegamos a tratar os feridos, são muitos".

"Não temos medicamentos e material médico", acrescentou. "Enviamos os feridos para hospitais particulares, porque não confiamos nos hospitais do governo".

"Estamos nos manifestando pacificamente e eles atiram em nós", gritou Ahmad, de 25 anos, um dos manifestantes feridos. "Não sairei deste lugar até que o presidente tenha caído, mesmo que eu seja morto".

As vítimas desse massacre, sem precedentes desde os episódios de violência civil de 1994 neste país pobre de 24 milhões de habitantes, elevam para mais de 80 o número de mortos desde o início do movimento pedindo a saída do presidente Saleh.

Pouco depois da explosão da violência em Sanaa, Saleh anunciou que "o Conselho de Defesa Nacional proclama estado de emergência no país", o que indica a sua determinação de conter a revolta nas ruas, apesar de seu isolamento político crescente.

Os Estados Unidos ainda consideram Saleh um aliado na sua luta contra os seguidores de Osama bin Laden na península arábica, que ameaçam a segurança do grande vizinho do Iêmen, a Arábia Saudita.

"Lamento" esses mortos, que "consideramos mártires da democracia", declarou aos jornalistas o chefe de Estado. O presidente, no entanto, pediu aos manifestantes "escolham um outro lugar, distante dos bairros residenciais, se quiserem manter suas manifestações".

A oposição acusou o regime de ter cometido "um massacre". "Esse massacre não vai contribuir para manter Ali Abdallah Saleh no poder", afirmou, em uma declaração à rede Al-Arabiya, o porta-voz da oposição parlamentar, Mohamed al-Sabri.

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